Atos racistas em público ainda são frequentes

Muitos agressores se veem no direito de ofender ao outro, sem temer consequências

Segundo pesquisas do Instituto Locomotiva feitas em março de 2021, uma em cada três pessoas já sofreu discriminação em transportes públicos por ser negro no Brasil. E sete em cada dez pessoas já sofreram racismo em lojas, restaurantes, supermercados ou shoppings. Os dados denotam o quão comum essas ocorrências ainda são, mesmo com o avanço da luta pela conscientização da população brasileira em torno de tópicos de etnia e preconceito.

Segundo o mais recente Atlas da Violência, 77% das vítimas de homicídio foram pessoas negras no país em 2019. Para a historiadora Fernanda Zaphiro, os episódios ainda ocorrem devido às influências que o passado do Brasil causa nos costumes do nosso tempo. A especialista destaca que após três séculos de um sistema escravista, colonial e apoiado pela igreja, as marcas desse sistema perduram até hoje. “Quando os negros foram ‘libertos’, mesmo com muitas lutas e muitos contras, temos que lembrar que tudo que era negro foi criminalizado; a capoeira, a religião. E podemos ver esses sinais até hoje. Tudo isso é uma herança desses 300 anos de escravidão”, elucida Zaphiro.

O viés histórico é um dos fatores que impulsionam casos de preconceito como o vivido por Moisés Sansão que exemplifica como agressores se sentem livres para dizer o que bem entendem para suas vítimas. Na ocasião, o homem negro de 26 anos e morador do Rio, esperava o elevador do próprio prédio em que morava, quando uma mulher branca — que sequer era uma moradora — apareceu também para esperar o elevador, mas assim que notou Moisés,  apontou para o elevador de serviço e disse para ele “seu elevador é aquele”, e insistiu na afirmação mesmo com Moisés explicando que era morador do prédio. 

Ouça neste áudio o depoimento de Moisés, na íntegra.

Moisés conta também que essa é apenas uma das situações de racismo que já viveu, mas que o ocorrido o deixou com uma sensação de não pertencimento. “Nunca me senti menos que outra pessoa, mas o sentimento de não pertencer era muito forte. O desconforto da situação era muito grande também”,  relata o jovem. Um dos impactos do racismo é a saúde mental de quem passa por esse sofrimento. Para Zaphiro, a dor de uma vítima de violência racial é imensurável e afeta a maneira como a pessoa enxerga a si mesma e aos outros, um impacto no convívio social de quem é agredido.

Fernanda Zaphiro descreve bem o impacto vivido pela vítima no seguinte áudio.

Para combater o racismo, busca-se a informação e a denúncia, assim como evitar a omissão. “Você deve entender seu privilégio dentro de uma sociedade que não foi construída para o outro (o negro), mas sim para que esse outro estivesse à margem, e que essa outra pessoa está buscando seu lugar”, conclui Fernanda.

Pedro Lima – 3º período
Esteban Rojo – 4º período

Matéria feita para a disciplina de “Escrita Criativa: Discurso” ministrada pela professora Renata Feital.

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