Os desafios das mulheres jornalistas

As dificuldades enfrentadas em redações machistas

Mulheres sofrem com machismo diariamente na rua e nos locais de trabalho. Isso não é diferente para jornalistas que acabam tendo suas capacidades questionadas, são ignoradas em reuniões e são assediadas tanto sexualmente quanto moralmente por conta do seu gênero. Segundo uma pesquisa desenvolvida pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Gênero e Número, com o apoio do Google News Lab, 92,3 % das jornalistas entrevistadas confessaram ter ouvido piadas machistas no ambiente corporativo e 65% afirmaram ter mais homens do que mulheres em cargos de poder.

O primeiro dado é confirmado por Erica Ribeiro, jornalista, designer gráfico e professora da Universidade Veiga de Almeida. A profissional diz que no início dos anos 2000, ela ouvia muitas piadas machistas, tantas que ela nem sabe expressar quantas, já as discussões sobre esse assunto frequentemente ocorriam por “baixo dos panos”.

Erica Ribeiro comenta sobre ter sua competência questionada.

Essa fala é reafirmada por Elisângela Salaroli, jornalista e locutora da rádio 93 FM. Ela fala que piadas machistas sempre vão estar presentes em qualquer lugar do mundo corporativo e que já teve que ignorar comentários como: “Você vai conseguir falar sobre economia?” e “Você vai conseguir falar tudo no improviso?”. Ela também afirma já ter sofrido assédio sexual na década de 90 por parte de um chefe que costumava fazer isso com várias mulheres. “Era uma época que denunciar este tipo de caso não era comum, então levava na brincadeira e saía de perto. O tempo foi passando e o mesmo foi demitido por assédio há poucos anos” , conta.

O machismo não está preso ao local de trabalho, ele também está presente nas ruas. De acordo com Nathalia Castro, repórter da TV Globo, são comuns situações em que, ao pedir para que o convidado (homem) não olhasse para a câmera no momento da entrevista, as jornalistas recebam comentários desagradáveis e com teor de flerte como por exemplo “ah, muito melhor olhar para você”.

Nathalia comenta que, além das atitudes vindas de entrevistados nas ruas, durante coletivas de imprensa, já houve momentos em que autoridades a interromperam enquanto ela falava, porém em casos como esses é preciso manter o profissionalismo. “Mesmo me sentindo desconfortável, tento me manter firme”, revela.

Interromper, ignorar a fala, fazer comentários ou piadas machistas são formas de discriminação contra a mulher. A repórter Fernanda Rouvenat, da GloboNews, percebe isso diariamente no trabalho. “No Rio, acompanhei muitas operações policiais, fiz plantões em portas de delegacia, e, muitas vezes, percebi olhares que me intimidavam… Quando delegados ou policiais saíam da delegacia até a porta para passar informações, quase sempre se dirigiam aos homens, cinegrafistas e repórteres. Quando era somente eu ou apenas mais uma ou duas mulheres, já aconteceu de sermos deixadas para trás”, destaca.

Muitas são as dificuldades para se manter no ramo jornalístico e quando as mulheres conseguem conquistar cargos de poder, nem sempre elas recebem respeito dos colegas, como Lica Oliveira, jornalista, locutora de rádio e editora de Jornalismo Rádio Tupi FM, ao falar sobre a chefe. “A interação dela com colegas era boa. Mas infelizmente já presenciei ela sendo menosprezada e desrespeitada diante dos seus subordinados. Acho que não aconteceria da forma que foi, caso fosse “um” chefe e não “uma” chefe”, declara. 

No mercado de trabalho, além de sofrerem por conta de comentários e atitudes preconceituosas, que infelizmente são reproduzidos tanto por homens quanto por mulheres, jornalistas negras, como Lica, precisam lidar com o racismo estrutural mesmo que hoje exista mais espaço no mercado de trabalho quando comparado com 30 anos atrás. Para Lica, o machismo e o racismo estrutural negam, invisibilizam, oprimem e desumanizam as mulheres jornalistas quando dizem que elas devem ser duplamente boas para conseguir uma única chance, pois não podem falhar.

A sociedade brasileira é historicamente patriarcal e a prática do machismo foi tão diluída nas esferas sociais que é normal presenciar no cotidiano e cabe às mulheres defenderem seus direitos. Lica participa de campanhas de denúncia da Violência Contra a Mulher e procura evidenciar matérias que promovam informação sobre os direitos da mulher, enquanto Fernanda já contestou uma autoridade que insinuou comentários machistas (relacionados a mulheres não entenderem sobre futebol) durante uma entrevista e Nathalia sugere diariamente ao retratar reportagens sobre o tema.

Juliana Vilete – 3º período
Yasmin Bertazini – 3º período

Matéria feita para a disciplina de “Escrita Criativa: Discurso” ministrada pela professora Renata Feital.

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