OS DESAFIOS DA GESTAÇÃO EM ATLETAS DE ALTO NÍVEL NO BRASIL

Os jogos olímpicos de Paris 2024 trazem à tona as polêmicas e  concórdias da gestação de atletas de alto nível.

Em 2005, durante o primeiro mandato do Presidente Lula, o Governo criou um programa de patrocínio individual dos atletas brasileiros, o “Bolsa Atleta”. No ano de 2023, houve uma expansão desse programa, que agora oferece auxílio financeiro a atletas de alto rendimento em diversas modalidades esportivas, segundo a Lei nº 14.614. Agora, as atletas gestantes terão direito a uma bonificação à parte, durante o período gestacional e o pós-parto, 17 atletas já foram beneficiadas com essa amplificação da bolsa. O programa é uma forma de incentivar o desenvolvimento do esporte de alto nível no Brasil.

No dia 26 de Julho começarão os Jogos Olímpicos de 2024, em Paris, na França. E pela primeira vez na história, o número de atletas femininas se iguala em 50%  à quantidade de atletas masculinos, segundo o COI (Comitê Olímpico Internacional). Até a publicação desta matéria, o Brasil conta com 192 atletas já classificados para os Jogos Olímpicos, 114 mulheres, quase 60% das vagas. Além de ser a primeira vez na história do Brasil, que o número de atletas femininas será maior do que o número de atletas masculinos.

À medida que os Jogos Olímpicos de Paris se aproximam, os questionamentos sobre as atletas de alto rendimento que decidem engravidar ainda em atividade vem à tona. Enquanto algumas mulheres optam por continuar competindo após a gravidez, outras enfrentam dificuldades no âmbito esportivo que nem sempre oferecem o suporte necessário para os obstáculos que surgem a essas esportistas que decidem se tornar  mães durante o auge de suas carreiras.

Conciliar a carreira de esportista com a gravidez e a vida de mãe não é uma tarefa fácil, considerando que a atleta de alto rendimento necessita de tempo e condicionamento físico para exercer a profissão.

A ex-atleta Fabiana Murer, duas vezes campeã mundial e campeã pan-americana de Salto com Vara, conta um pouco sobre a decisão de não ter filhos enquanto ainda estava em atividade. “Enquanto eu ainda competia em alto nível, às vezes batia aquela vontade de ser mãe. Mas logo passava, porque eu tinha outras coisas para pensar, competições, o mundial e etc”, relata Fabiana.

A Dra. Sílvia Casseb, ginecologista obstetra, especializada em medicina esportiva há mais de 15 anos, estimula as atletas a seguirem o sonho de se tornarem mães, sem ter medo da recuperação e do retorno ao esporte, após a gravidez. “O conselho é não adiar a gestação com medo de não voltar para o alto rendimento. A gestação não é aposentadoria. O período de gravidez é só uma pausa nas competições. Há cada vez mais exemplos de atletas que foram mães e voltaram ao alto rendimento, então tem modalidades que a longevidade é muito grande”

Além do conselho, Sílvia também explica um pouco sobre como deve ser a rotina de treinos para uma atleta que deseja voltar ao alto rendimento após a gravidez, e quais sinais o corpo da mulher pode dar para se estabelecer um limite nesses treinos. “É recomendado que a atleta pratique exercício físico até o parto. Claro que não será na  mesma intensidade. No  triatlo,por exemplo, a esportista não vai pedalar na rua durante gravidez inteira, mas é possível que dê para fazer natação até o final. São precisos pequenos ajustes de acordo com o passar da gestação, mas tirar a mulher da prática esportiva, não é  saudável”, afirma a Doutora.

“A atleta vai perceber que está passando do limite, quando ela fica naquela situação de cansaço extremo, que eu chamo de “Quase Morte”, em potência máxima, então não é recomendado que a gestante tenha essa altíssima intensidade”, conclui.

Para a ex-atleta Fabiana Beltrame, campeã mundial de Remo, com dois ouros sul-americanos, não houve dúvidas quando ela tomou a decisão de engravidar. “Foi uma gravidez planejada, tanto é que eu decidi engravidar logo depois das olimpíadas de Pequim (2008), porque dessa maneira seria mais fácil para eu me recuperar a tempo dos próximos jogos olímpicos, que seriam os de Londres (2012)”, relata a ex-atleta.

Ao comparar a sensação de dar à luz com a de ser campeã mundial (dois anos após o nascimento da sua primeira filha), Fabiana afirma: “Ser mãe e ser campeã mundial são as duas maiores emoções da minha vida com certeza”, declara Fabi.

Além disso, Fabiana Beltrame explica como ela conciliava a vida de mãe com a de uma atleta profissional, e como o apoio do seu cônjuge, Gibran, foi importante. “Nos primeiros meses era bem difícil, porque nós dois éramos atletas, então a gente se revezava. Primeiro um ia treinar e o outro ficava cuidando dela (Alice). No intervalo entre os treinos eu amamentava e voltava para a água. Era toda uma logística bem organizada para eu conseguir treinar. Nas viagens, muitas vezes, ou a minha mãe, ou a mãe dele (Gibran) ia comigo, para ajudar,” conta a ex-atleta.

A médica esportiva e ginecologista obstetra, Dra. Sílvia Casseb, comentou sobre a expansão do “Bolsa Atleta”, para as  gestantes, além de criticar o posicionamento dos clubes e instituições esportivas ao que se refere à gestação das atletas. “Os clubes não estão habituados a colocar esse tipo de cláusula no contrato (de possível gestação). Agora, o Bolsa Atleta,  também deve englobar a gestação e o pós parto. A atleta não vai deixar de trabalhar, durante a gravidez. E depois, a licença maternidade, quando estiver  amamentando. Muitas modalidades são compatíveis com a amamentação, então você levar um bebê pro treino ou para uma competição, é completamente aceitável”, explica a Doutora.

Mesmo em meio a todas as dificuldades Fabiana Beltrame conclui que todo o esforço foi gratificante. “Tivemos que nos organizar bem para que desse tudo certo. Foi um momento desafiador, mas eu acho que valeu a pena”, conta a ex-atleta.

Mario Freire – 1º Período.

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