Moradores da Rocinha têm a vida transformada

Projeto social amplia acesso a cultura e lazer na comunidade

As comunidades espalhadas por todo o país enfrentam diariamente a precariedade de diversos serviços que deveriam ser essenciais. A insuficiência está presente nos setores de saúde, educação, segurança e lazer, o que configura uma falta de investimentos do Estado tornando as milhares de pessoas que vivem nesses lugares invisíveis. Uma vez que a máquina pública não é capaz de gerir e cumprir as demandas, a população encontra suporte para subsistir em ações sociais.

Os projetos sociais tornam visíveis essa parte da população e são capazes de transformar a realidade da população periférica. A Associação Sociocultural Semearte atua desde 2013 mudando a vida de crianças, adolescentes e jovens adultos moradores da Comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, através da cultura.

Talita Santos afirma que a função dos projetos sociais é construir pontes (Foto: Reprodução Instagram) 

A idealizadora Talita Santos conta que o projeto surgiu a partir de uma reportagem que mostrava uma guerra na Rocinha, com crianças sendo expostas à violência. Talita que é Pedagoga, Atriz e Diretora, sentiu que precisava levar o projeto social que já realizava em Belo Horizonte para outros lugares. Com isso, a mineira decidiu vir para o Rio de Janeiro fazer a diferença.

Atendendo cerca de 100 jovens, o projeto contribui para o desenvolvimento artístico por meio de aulas gratuitas de teatro, dança, música, TV e cinema com o intuito de qualificar e salvar vidas. Desenvolver nos participantes o desejo de ir além e proporcioná-los alternativas, é o principal pilar.

“Nossa missão é resgatar vidas e contribuir para o desenvolvimento humano e artístico”

Talita Santos.

Ouça o que Talita Santos tem a dizer sobre a importância do incentivo à cultura no cotidiano dos jovens da comunidade.

Em razão da pandemia de Covid-19, as aulas, que antes eram realizadas na Biblioteca Parque da Rocinha, agora são virtualizadas e sem previsão de retomada para a modalidade presencial. “Essa adaptação para o virtual, está sendo um desafio. No presencial conseguimos colocar 105 alunos dentro de um galpão. Na rede a gente não atinge um número muito grande” conta a idealizadora da Semearte.

A falta de recursos tecnológicos e acesso às redes é uma dura realidade nas comunidades carentes. E os envolvidos no projeto fazem de tudo para conseguir reverter esta condição e levar cultura e lazer a todos, sem exceção. “Sabemos de alunos que não tem internet e isso causa um buraco nas nossas atividades. Quando isso ocorre nós vamos até eles e propomos atividades e gravações.” Revela Talita.

Jefferson Messias tornou-se educador por influência do projeto “Queria me tornar um incentivador de pessoas e é nisso que acredito” (Foto: Acervo Pessoal) 

Todo o esforço é válido para manter os alunos engajados nas atividades. O jovem Jefferson Messias, de 23 anos, é o mais antigo na Semearte. No momento atua como Professor, Ator, Diretor, Coreógrafo e Coordenador Pedagógico na Associação e revela o que o motivou a entrar para o grupo. “Queria entender quem eu era e o que sentia, queria de alguma forma preencher o vazio que havia em mim”.

Jefferson tem origem nordestina e conta que veio para o Rio de Janeiro com a família para tentar ganhar a vida, ainda criança. No entanto, aos 11 anos perdeu sua mãe e em decorrência disso desenvolveu uma depressão profunda. Aos 16 anos, conheceu a Talita que o incentivou a entrar para o teatro. “Ela insistiu em mim, ela me deu uma chance. Transformei meus traumas em arte, minha história em peças de teatro, meu silêncio em voz”, revela Jefferson.

Eu acreditava não ter nenhum dom, talento, potência e muito menos voz, falo com isso com lágrimas nos olhos. Não me recordo a quantidade de vezes que tentei suicídio”

Jefferson Messias

Hoje, Talita Santos colhe os frutos do que semeou em 2013. Após ver tantos envolvidos no projeto alçando voos mais altos e até mesmo cursando uma faculdade, afirma que é necessário acreditar. É preciso um olhar mais atento para projetos que incentivam os jovens a serem protagonistas de suas histórias. Ações sociais transformam vidas, fortalecem a comunidade e possibilitam um espaço de desenvolvimento, voz, escuta e potência de talentos.

Gabrielle Lopes – 7º período

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