Representação da velhice na mídia foi discutida com alunos de jornalismo e publicidade
A ressignificação da velhice foi o tema debatido em palestra na terça-feira (19) na Universidade Veiga de Almeida, campus Barra. O convidado para conduzir o assunto foi o jornalista e roteirista, Valmir Moratelli, autor do documentário “Prateados – A vida em tempo de madureza”, nome baseado no poema de Carlos Drummond de Andrade, que mostra a velhice em suas diferentes formas e fases.
O público de 40 jovens, dos cursos de jornalismo e publicidade, foram reconstruindo junto com o jornalista, os papéis sobre o processo do envelhecimento na sociedade contemporânea, sobre os estereótipos e o peso que as mulheres carregam ao chegar na velhice. “Isso é muito cruel, um homem de cabelo grisalho aos 60, ele é charmoso, galã de novela. Já a mulher aos 30 anos já começa a perder o papel de protagonista na novela”, afirma Moratelli.
O diretor apresentou também o processo de produção de “Prateados” e diz que o documentário teve o objetivo de desmistificar justamente o preconceito sobre o que é ser velho, pois a terceira idade muitas vezes é invisível nas discussões, principalmente com a pandemia da Covid-19, na qual houve muitas frases depreciativas por parte de algumas pessoas de que não haveria problema pessoas mais velhas falecerem decorrente da doença por serem consideradas inválidas.
Moratelli reforça a importância da mídia na desmistificação dos preconceitos através da construção de narrativas que mostram a realidade dessas pessoas consideradas invisíveis na sociedade. Veja no vídeo.
O documentário dá voz e protagonismo para quem já passou de 60. Temas como vida, morte, sexo, trabalho e pandemia são citados por 14 depoimentos de pessoas. Entre os entrevistados, estão Zezé Motta, Tonico Pereira, Romeu Evaristo, Noca da Portela e Sebastião Januário. Durante o filme é possível aprender com os personagens sobre cada etapa da vida, pois muitas vezes eles deixam dicas para os mais jovens, principalmente sobre não deixar de fazer o que deseja por vergonha. Além disso, eles mostram como são ativos e cheios de vontade de viver.
“Acho que o que eu mais aprendi é que a gente precisa observar os mais velhos como pessoas ativas e que têm o que ensinar e aprender, não no sentido bobo da palavra, mas tentar entender que esses idosos também têm mais vida pela frente assim como nós mais jovens”
Valmir Moratelli
A aluna do 7° período de jornalismo, Luma Keily, participou do evento e contou sobre a importância de desconstruir padrões, principalmente com a questão do envelhecimento, que não é o lugar de fala dos jovens. Veja no áudio a seguir.
As gravações que começaram no meio do ano de 2020, no auge da pandemia no qual ainda o vírus ainda era pouco conhecido, foi um dos maiores desafios para realizar o projeto devido a necessidade de reduzir a equipe, fazer testagens PCR e gravar com distâncias de mais de dois metros do entrevistado. “Nós tivemos que nos redescobrir como profissionais dentro dessa nova lógica de montagem”, disse Moratelli.
Por fim, o jornalista deixa dicas para os estudantes que desejam seguir carreira como documentarista. “Tem que ficar muito atento às temáticas que não estão sendo faladas, é importante que assista produção de diferentes matrizes e detectar o que tá falhando, onde que a gente não tem discussão”. Para ele, hoje em dia a audiência carece de representatividade para quebrar os estereótipos de apenas pessoas brancas na televisão discutindo sobre assuntos irrelevantes para o avanço da sociedade.
Cícera Gledys Ramos – 6º período