Pesquisa mostra que cerca de 70 mil pessoas passaram pelo procedimento no último ano
Um levantamento da Sociedade de Cirurgia Bariátrica (SCB) constatou um aumento de 7% desse procedimento. A Gastroplastia, ou cirurgia bariátrica, é a redução do estômago em pacientes que apresentam estágios mais avançados de obesidade. No Brasil, o número de pessoas consideradas obesas mais que dobrou em 16 anos e 60% dos brasileiros convivem com o sobrepeso, segundo dados do IBGE.
Não por acaso, a quantidade de pessoas que buscam a bariátrica também aumentou. Segundo a SCB, os riscos da cirurgia bariátrica não são diferentes de quem faz procedimentos como cesariana, um parto normal e histerectomia. Entretanto, ainda existem tabus que envolvem a operação, como o medo de complicações do pós-operatório, as dificuldades em manter uma dieta restritiva nas primeiras semanas e a indicação de um acompanhamento psicológico antes e depois.
Para o professor universitário, Jorge Luiz Campos, de 53 anos, os tabus não foram empecilhos. O professor estava certo de que esse seria o caminho e buscou apoio em grupos para ouvir as experiências de outras pessoas e se preparar. Ele realizou o procedimento em 2015 e já perdeu mais de 50 quilos. A nova forma física e fôlego ajudaram na escolha da corrida em competições. “É uma mudança muito radical”, conta Jorge, que acredita que a gastroplastia é uma ferramenta para mudança de vida, uma oportunidade de recomeço.
Jorge Luiz Campos conta sobre o impacto da cirurgia bariátrica na sua vida
Segundo a SCB, a cirurgia bariátrica pode aumentar a incidência de anemia em mulheres por conta da menstruação, perda de ferro e pouca presença de carne vermelha na dieta. Outro fator biológico afetado é a gravidez: a SCB aconselha que as pacientes devem esperar 15 meses do pós-operatório para engravidarem com segurança. Além disso, o uso de anticoncepcionais orais não é indicado.
Adriana Lopes, administradora de 50 anos, já era mãe e sofria com problemas relacionados ao mal funcionamento da tireóide quando tomou a decisão de fazer a gastroplastia. Durante o acompanhamento com um endocrinologista, o médico percebeu que, embora Adriana seguisse regras alimentares, o peso só aumentava e com ele alguns riscos para a saúde. A saída proposta foi a bariátrica e Adriana fez o procedimento em 2016. “Foi uma proposta de qualidade de vida pra minha vida”.
Adriana Lopes fala sobre a experiência pessoal com a bariátrica
A diminuição do peso não é o único foco da equipe médica. Os pacientes podem apresentar ganhos no metabolismo e a remissão das doenças associadas à obesidade, como diabetes e hipertensão. Para Ricardo Cohen, coordenador do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, esse tipo de doença merece uma atenção. “A obesidade e o diabetes são doenças crônicas e progressivas que evoluem como um câncer em que se atinge um limite de eficácia dos remédios”, alerta Ricardo.
Grande parte dos procedimentos de gastroplastia é realizada em instituições privadas, mas pode ser feita pelo SUS. A pessoa que desejar, tem que buscar os postos de saúde para dar início nessa trajetória. Para ser elegível, o paciente deve ter esgotado todas as possibilidades de tratamento clínico da obesidade e cumprir com os requisitos impostos pelo Ministério da Saúde. Atualmente, o tempo de espera oscila entre 6 meses a 4 anos, dependendo da região. Segundo Marcos Leão Vilas Boas, presidente da SBCBM, a lentidão no atendimento desses pacientes é um problema que precisa ser enfrentado. “É praticamente inacessível para pessoas que dependem do sistema público e dos planos de saúde”, defende.
Além do viés fisiológico, é necessário ter um profissional da psicologia que auxilie o paciente na tomada de decisão e, posteriormente, a enfrentar as mudanças provocadas pelo procedimento. Por isso, o ideal é que o pré-operatório conte com uma equipe multidisciplinar com psicólogos, nutricionistas e outros especialistas. “Todas as sessões quando eu ia ao psicólogo, tinha cada vez mais certeza de que era isso mesmo que eu gostaria de fazer”, disse Adriana.

A gastroplastia pode ser uma ferramenta útil para aqueles que estão aptos a construir novos caminhos como Jorge e Adriana. Ambos possuem uma rotina ativa na qual a atividade física ganhou destaque. Nessa balança, o peso conta pouco perto da qualidade de vida que eles alcançaram. “É muito bom fazer exames e ver que está tudo sob controle”, conta Jorge.
Gabrielle Lopes - 6º período Rafaela Barbosa - 8º período