Agência UVA Barra Assistiu: A História da Minha Mulher

“A História da Minha Mulher”, chega aos cinemas brasileiros seis anos depois do lançamento de “Corpo e Alma”, filme anterior da diretora Ildikó Enyedi, que recebeu uma indicação ao Oscar de melhor filme internacional em 2018. O novo longa é uma adaptação de um livro ainda inédito no país, que em tradução livre seria “A História da Minha Esposa: Reminiscências do Capitão Stör”. A obra fez parte da seleção oficial competitiva do Festival de Cannes em 2021 e revisita discussões sobre a complexidade psicológica e as intrigas a partir de um relacionamento amoroso inusitado.

Foto: Divulgação

Jakob Stör (Gijs Naber), é capitão de navio, um homem de meia-idade, bem-sucedido na profissão e de condição financeira estável. Após uma pausa em terra firme, ele encontra em um restaurante com o amigo Kondor (Sergio Rubini) em uma conversa casual, o oficial declara que vai se casar. Contudo, existe um detalhe: Stör não está em relacionamento com ninguém e declara que se casará com a primeira pessoa que entrar pela porta do estabelecimento, dando assim início ao relacionamento dele com Lizzy (Léa Seydoux), despertando uma paixão voraz. O desejo intempestivo do casal e os atritos pessoais podem levar os dois a rumos incontornáveis.

Os protagonistas, de alguma forma, tentam superar os seus próprios problemas, mas ainda estão presos à realidade social que os cerca. Lidando com personagens que apresentam ações, perspectivas emocionais tão distantes e desconhecidas ao senso comum. O roteiro apresenta uma limitação em relação à capacidade de transmitir pontos de identificação e sentimentos de empatia, o que, por outro lado, é demonstrado por personagens frios, manipuladores e confusos, além de decisões antipáticas e amorosas. A produção apresenta uma grande quantidade de diálogos frágeis e artificiais, bem como eventos anti climáticos, o que, repetido de forma excessiva, pode comprometer o ritmo e a dinâmica do filme.

A narrativa é dividida em sete capítulos com os respectivos intertítulos ao longo da duração do longa-metragem.  Diferentes filmes como “Pulp Fiction” (1999), “O Grande Hotel Budapeste” (2014) e “A Pior Pessoa do Mundo” (2021), adotaram estruturas parecidas, porém nestes exemplos este recurso auxilia uma condensação e administração dos acontecimentos durante a passagem do tempo. A divisão entre capítulos aqui destacam acontecimentos e tônicas que já estavam impressas no texto contribuindo com uma sensação de redundância. Existe a subutilização dos personagens coadjuvantes que aparecem de forma unidimensional e não tem um espaço de desenvolvimento além de uma função narrativa pré-estabelecida.  

A direção de arte é competente em criar um período de tempo que é representado tanto por figurinos de uma caracterização exaustiva quanto por um grande número de peças que remetem ao imaginário dos anos 30 e 40, como sobretudos, echarpes, chapéus clássicos e objetos de cena, como copos e talheres, além disso, a escolha e a disposição espacial dos lugares escolhidos em espaços sociais, como restaurantes e locais da alta cúpula da nobreza europeia, e a claustrofobia do navio. A fotografia é composta, sobretudo, por luzes naturais, mas, em momentos específicos, também reforça um jogo de luzes e sombras, em especial no ambiente de embarcação, sugestionando elementos de dualidade e distância.

Enyedi utiliza uma abordagem de filmagem que enfatiza as expressões, olhares e gestos que destacam as ações em função dos ambientes que são usados como panos de fundo para o desenvolvimento das ações, direcionando o espectador para a sinalização de uma época passada. A utilização frequente de planos contemplativos que possuem inclinação poética, acabam por provocar um ritmo mais lento e cadenciado.

Léa Seydoux, o nome mais requisitado do elenco, justifica sua participação com expressões físicas e gesticulações que transmitem uma composição que transmite uma sensualidade e atributos voláteis, assim como fragmentos de fragilidade e dependência emocional que, muitas vezes, são apenas percebidos pelo rosto. No entanto, é comprometida por uma atuação apática e limitada de Gijs Naber e pelo alcance difuso do texto.

“”A História da Minha Mulher” traz uma trama que envolve questões complexas e decisões ousadas, contudo apresentam decisões artísticas e construções questionáveis de personagens. O filme é distribuído pela Pandora Filmes e estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta (15/06). Confira o trailler:


Márcio Weber – 2° período

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