AGÊNCIA UVA BARRA ASSISTIU: “Sobibor”

Foto: Divulgação – A2 Filmes

O filme de Konstantin Khabenskiy, baseado na heroica fuga do campo de contração de Sobibor, funciona como um dramático e violento soneto, onde a resiliência necessária para escapar de uma morte eminente é substituída por várias doses de brutalidade.

Ao desembarcar em Sobibor, uma coisa fica clara. É preciso trabalhar para os alemães para adiar a morte. A mínima chance de salvação está em submeter-se aos caprichos e abusos dos soldados. Fugir é impossível. Ao ser pego, quem tenta escapar é metralhado e faz com que outros judeus sejam executados pelos esquadrões da morte da SS*. É neste cenário caótico que Alexander Pechersky precisar unir e liderar uma insurreição composta por prisioneiros que falam diferentes idiomas e não se entendem direito.

O filme destaca o genocídio de maneira explícita e deixa isso claro desde o início. Ainda em sua introdução, dezenas de mulheres são asfixiadas na câmara de gás. Aliás, se você busca personagens femininas perspicazes, fortes e resilientes, esqueça. Em Sobibor, nenhuma delas têm lugar de fala. São tratadas como objetos pelos alemães e têm como propósito fortalecer o espírito de coragem dos homens judeus.

Foto: Divulgação – A2 Filmes

Por inúmeras vezes, a tentativa de salvar a todos do campo de concentração é posta em segundo plano para se evidenciar as atrocidades. Em dado momento, numa “Festa de Nazistas”, judeus são humilhados, chicoteados ininterruptamente, incendiados vivos e mortos à tiros. Esta escolha, de modo a expor o extermínio, é suscetível a críticas negativas, pois enfatiza a violência gratuita intrínseca ao filme.

Christopher Lambert, que protagonizou o eterno Highlander, não combina com o elenco e tem uma atuação insossa. Ele serve apenas como “star-system”: o rosto famoso por trás de uma obra. Seria mais sensato contratar um ator alemão ou europeu mais convincente.

A fotografia trabalha luz e sombra nas cenas externas noturnas e transmite a sensação do constante estado de vigília, onde um passo em falso pode significar a morte. Ao longo de sua duração, o filme apresenta uma paleta mais neutra e acinzentada.

Foto: Divulgação – A2 Filmes

O lirismo presente na trilha sonora reforça o ar trágico de Sobibor. Voltando no tempo, mais precisamente para 1997, traço um paralelo do trio em orquestra a bordo do Titanic momentos antes do naufrágio com os músicos judeus na recepção aos novos prisioneiros de Sobibor. Em ambos os casos, um prenúncio: o pior cenário possível.

É um filme rico em certos aspectos, como detalhes cenográficos e figurinos, confuso em determinar o foco principal da narrativa e repleto de exageros estéticos e de linguagem. A sequência final é um exemplo claro do exagero. Se a dose de surrealismo fosse menor, seria épica, mas forçaram a barra e deixaram-na bizarra.

É um filme que merece ser visto pelo esforço e dedicação das equipes de pesquisa e produção, que nos entregam um produto final visualmente fidedigno. Sobibor estreia no dia 25 de abril de 2019 nos cinemas.

* Schutzstaffel, abreviada como SS, foi uma organização paramilitar ligada ao partido nazista e a Adolf Hitler.

Kadu Zargalio – 3º Período | Produção Audiovisual

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