As mulheres na área científica demonstram a importância da representatividade
O dia internacional da mulher é sempre uma data para ser lembrada, comemorada e divulgada, entretanto, ainda há muita coisa a ser feita para que barreiras de preconceito e equidade sejam respeitadas. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), atualmente, menos de 30% dos pesquisadores em todo o mundo são mulheres.
Como parte do projeto “Diversidade na Ciência Brasileira”, que conta com apoio do Instituto Serrapilheira, o Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA), divulgou uma plataforma que aponta dados sobre a desigualdade de gênero na pós-graduação, comparando a proporção de mestras, doutoras e professoras em áreas de conhecimento distintas. Este estudo deixa ainda mais evidente a baixa presença feminina em áreas que envolvam ciência e tecnologia, por exemplo. No ano de 2020, o curso de Ciências da computação registrou 18% de mulheres no mestrado, 19% no doutorado e 21% na docência.
Em diversos setores é possível notar uma diminuição na proporção de mulheres conforme as carreiras científicas progridem, e esse fenômeno é chamado de “efeito tesoura”, pois há um corte da presença feminina de acordo com os níveis mais altos de acesso ao ensino superior.
Márcia Rangel é pesquisadora de pós-doutorado, e no áudio abaixo, fala sobre um possível fator que leva a esta diminuição da presença feminina:
Clara Araújo é professora do curso de Ciências Sociais e doutora em Sociologia, para ela as mulheres são socializadas e influenciadas a pensar primeiro em suas responsabilidades familiares e depois pensar na escolha da carreira. A professora também afirma que as horas trabalhadas em atividades domésticas acabam impedindo que muitas mulheres consigam competir em condição de igualdade com os homens. “Ainda existe uma segregação ocupacional, como as carreiras de homens e carreiras de mulheres”, afirma a docente. Clara diz que uma carreira na ciência demanda muito tempo e dedicação, e na maioria das vezes as mulheres não conseguem ter essa disponibilidade, devido aos compromissos familiares.
As premiações científicas também refletem essa desigualdade. Desde que o prêmio Nobel foi criado em 1901, aproximadamente 950 pessoas foram premiadas até o ano de 2021, sendo apenas 58 mulheres, cerca de 6% do total. Para Márcia Rangel, as premiações acabam sendo mais um espaço onde é possível constatar a sub-representação feminina: “É possível identificar uma lacuna que a gente pode apontar como talvez uma evidência de discriminação de gênero”, afirma.
Historicamente as mulheres só conseguiram entrar no mercado de trabalho e no mundo acadêmico, centenas de anos depois da presença masculina. Quando isso aconteceu, elas encontraram um ambiente totalmente ocupado pelos homens, e foram obrigadas a procurar profissões desvalorizadas pela sociedade.
Ouça o que a professora Clara fala sobre a dificuldade das mulheres brasileiras no ingresso ao ensino superior:
É comum ouvir relatos de mulheres que já sofreram algum tipo de discriminação em seus locais de trabalho, como por exemplo, serem interrompidas por homens em locais de debates, receber críticas por sua aparência ou vestimenta, entre outros. A cientista Márcia Rangel diz que quando estava em uma palestra, fez uma pergunta relacionada a gênero ao palestrante e foi ignorada pelo mesmo. Algum tempo depois, um colega homem de Márcia, fez a mesma pergunta e foi atendido.
“Eu fui a 1° mulher presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), eu era uma liderança estudantil, e na época tinham poucas mulheres lá. Eu sofri muita discriminação, foi muito difícil, mas eu nunca me dobrei a isso”
Clara Araújo
A diversidade e a representatividade são temas importantes em todas as áreas da sociedade, principalmente na parte acadêmica. A pesquisadora Márcia Rangel explica que áreas diversas estão produzindo ciência de maneira plural, e, por isso, a participação maior das mulheres é importante para as discussões científicas que trarão benefícios para toda a sociedade.
Igor Concolato – 3° período