Graduação na maturidade: a geração que está voltando para a faculdade encara novos desafios no ensino superior

Conciliar emprego, maternidade e se adaptar ao ensino on-line são algumas
dificuldades. No entanto, experiência de vida ajuda a superar os problemas

Com uma mesa repleta de livros abertos e olhar atento para o conteúdo, Daniele Batista, 41, tira o tempo de intervalo para estudar na biblioteca da universidade. Professora de português há mais de 17 anos, aos 38 resolveu cursar uma segunda graduação e atualmente está no 8º período de Psicologia na Universidade Veiga de Almeida (UVA). Para ela, conciliar trabalho, maternidade e ainda ser uma boa aluna na faculdade não é simples.

“É complicado porque eu sei que eu fico sobrecarregada. Então eu tenho que fazer constantemente terapia também, porque tem hora que é muita é muita pressão, não tem outro nome, né?”, ressalta Daniele.

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o número de matriculados, ingressantes e concluintes no ensino superior cresceu em 2020. Segundo o Censo de Ensino Superior de 2020, 10,7% dos alunos matriculados em cursos de graduação presencial ou a distância no Brasil, possuem de 40 a 54 anos. Com a idade mais avançada, as pessoas se sentem mais seguras e estáveis financeiramente para reingressar ou começar uma graduação, mas enfrentam novos desafios.

A maior dificuldade que Daniele tem para se manter na faculdade é conseguir ajustar as suas ocupações e compromissos. “Tem hora que eu consigo estudar mais. Tem época, quando eu acho que meus filhos estão precisando mais de mim, eu acabo virando o foco mais pra eles e fico um pouquinho enrolada. Mas é assim, nem tudo eu sei que eu vou fazer.”, afirma. Além disso, pelo fato dos filhos serem pequenos, ela precisa da ajuda dos pais uma vez por semana e, nos outros, reveza as obrigações com o marido.

Existem diferenças de comportamentos e motivações. Atualmente, Daniele diz que estuda porque gosta. Frequenta a biblioteca regularmente e destaca que jamais faria isso com vinte anos. Na primeira graduação ela se preocupava pouco e levava menos a sério.

Para Yasmin Mendes, 19, graduanda de medicina veterinária, que trabalha dando aulas de inglês e tem a sua faculdade custeada pelos pais, a diferença de comportamentos entre as idades é explícita: “Eu acho que eles tem mais embasamentos da vida, de ideias, tem mais experiência, e a gente nem tanto assim. E eles trabalham, tem outra realidade, diferente da gente”.

Além da realização pessoal, voltar para a universidade na maturidade pode significar uma garantia maior de emprego em um cenário competitivo. De acordo com o estudo “Empregabilidade e Ensino Superior em tempos de pandemia”, divulgado em 2020 pelo Instituto Semesp, pessoas com nível superior completo têm 54% menos chance de ficarem desempregadas em relação às que cursaram até o Ensino Médio.

A pluralidade nas salas e novas adaptações no ensino permitem que mais pessoas frequentem os campus universitários. Para Júlio César, 55, e Delania Figueiredo, 51, ambos estudantes do 1º período de Psicologia na Universidade Veiga de Almeida (UVA), um dos principais contrastes entre jovens e as pessoas mais velhas nas universidades é de se adaptar às tecnologias atuais. “Para a minha geração é mais complicado, é tudo muito rápido, né? É tudo tecnológico, então a gente tem essa dificuldade para se adaptar”, aponta Delania, que é aposentada e formada também em marketing.

Júlio é economista, pai de duas jovens e também está em sua segunda graduação. Pontua o ensino on-line como uma dificuldade para ele, por ser de outra geração, e diz que percebe muitas diferenças entre os jovens e os mais velhos na faculdade: de experiência de vida, de formação e perspectivas. Ana Paula, 22, que estuda na mesma turma de Júlio e Delania, afirma que eles têm uma maturidade maior para entender a aula, dialogam de forma diferente com o professor e são mais decididos com o que querem.

André Santos, 22, e Bianca Darski, 42, também cursam o 1º período de Psicologia na mesma turma de Delania, Júlio e Ana. André está no último período da graduação tecnóloga de Marketing e diz que seu maior desafio é conseguir acordar cedo e ter disposição para ir para as aulas, já que uma graduação é à noite e a outra de manhã. Ele destaca que gosta e acha importante essa pluralidade de idades e diversidade na turma.

Existe também os olhares mais maduros e tranquilos para as dificuldades, como é o caso de Bianca, que é empresária e mãe de duas crianças, uma menina de 12 anos e um menino de 7. Ela está iniciando a sua terceira graduação, já que é formada também em jornalismo e administração. Destaca que é difícil conciliar a maternidade com a faculdade principalmente porque os filhos ainda dependem dela quanto a estudo e introdução na vida, apesar de ter uma rede de apoio bastante efetiva e de poder revezar com o marido os cuidados com as crianças.

Para ela, que passou por períodos turbulentos quando mais nova, estudando e trabalhando para pagar a própria faculdade, com horários de trabalho severos e salários mais baixos por ser mulher, atualmente se vê mais tranquila ao começar a faculdade do que quando fez as outras duas graduações: “Hoje a sensação que eu tenho quando eu entro é que vai dar tudo certo! A gente aprecia melhor, do que na época que a gente vive na correria, que tem que ter uma graduação, tem que ter um diploma, tem que se adequar ao trabalho. Hoje é mais tranquilo. Hoje é por prazer.”


Juliana Líbano – 6° período
Bruna Costa – 6° período

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