Os candidatos com deficiência possuem direitos assegurados para realizar a avaliação
O exame nacional do ensino médio é oferecido anualmente para que os estudantes tenham a oportunidade de ingressar na universidade federal ou até mesmo conseguir isenção ou financiamento para uma faculdade privada. A prova é realizada por alunos que estejam cursando o último ano escolar ou já tenham se formado.
A edição 2022 acontece nos dias 13 e 20 de novembro e oferecerá recursos de acessibilidade como prova em Braille com letra ampliada, guia-intérprete e mobiliário acessível. Essas modificações são voltadas para atender estudantes com baixa visão, cegueira, déficit de atenção, deficiência física, deficiência intelectual, deficiência auditiva, discalculia, dislexia, surdez, surdocegueira, transtorno do espectro autista e visão monocular, além de gestantes e lactantes, por exemplo.
Vitor Barbosa Pinto, estudante de jornalismo, realizou a prova nos anos de 2014 e 2016. O jovem que possui deficiência visual explica que cursou o ensino médio em uma instituição particular e que participava das aulas como ouvinte. Ele que utiliza uma máquina de escrever em Braille conta que tentou levar o aparelho para a escola mas por ser barulhenta acabou desistindo de utilizá-la em sala. Já na prova do Enem revela que teve à sua disposição profissionais ledores e transcritores, ou seja, que leram a prova e preencheram o cartão resposta e também as questões discursivas e ainda uma hora a mais para concluir as questões. ” Tive todos os mecanismos que eu precisei”, declara Vitor.
André Torres, auxiliar administrativo, realizou o exame nos anos de 2014 e 2015 na época precisou conciliar os estudos com o trabalho. Por ter paralisia cerebral revela que conseguiu finalizar a prova com o acréscimo de duas horas para a conclusão das questões.
O jovem pontua algumas adaptações que deveriam ser aplicadas. “Faltou a prova ter uma diagramação para pessoas com dislexia, um espaçamento maior entre as linhas e com fonte das letras maiores”, declara.
Anaquiel Bazilio de Jesus, estudante de publicidade, tentou o Enem entre os anos de 2017 e 2019. Ela que tem dislexia só conseguiu o laudo em 2018 mas o MEC acabou não aceitando sem explicação prévia e a jovem precisou realizar o exame sem os auxílios que o distúrbio de aprendizagem legalmente a assegurava.
Outro cenário em 2019. A jovem realizou a prova novamente e solicitou alguns recursos de acessibilidade. “Eu pedi uma hora a mais, sala vazia e correção especial” declara Anaquiel. Desses três recursos, ela só não conseguiu o acréscimo de tempo para a conclusão das questões.
Em 2020 acabou conquistando a graduação e hoje faz parte do comitê estudantil da sua universidade ( espaço que busca auxiliar os discentes nas questões acadêmicas).
Anaquiel fala sobre a atenção aos alunos com deficiência
Os alunos precisam encarar seus primeiros desafios ainda em sala de aula. A Pedagoga Amanda Malafaia, explica que ainda existe muita dificuldade em encontrar professores que realizem a adaptação de materiais para alunos do ensino médio. A falta de tempo e as necessidades distintas entre os adolescentes são as alegações dos profissionais de educação, sendo raras as exceções. Ela enfatiza a relevância da mediação escolar na rotina do aluno. “A mediadora e a família devem bater o pé e lutar pelos direitos na escola. Só assim para acontecer as provas adaptadas”, declara Amanda.
A pedagoga fala sobre a necessidade de ter acessibilidade no ensino médio
A acessibilidade não é algo que precisa estar presente apenas nos dias da aplicação da prova do Enem. Mas é necessário que se estimule a produção de conteúdos adaptados durante os três anos do ensino médio. Dessa forma o aluno estará familiarizado com as mudanças oferecidas no exame.
Gabriela Machado – 5° período
Foto de capa tirada por Ana Luísa Santos