Uma tentativa de assassinato, três verdades distintas sobre um mesmo crime. Sob essa premissa, uma investigação é iniciada e comandada pelo policial local Josué, que para desvendar o mistério do caso vai precisar explorar o depoimento de três outros personagens bem complexos: um assassino de aluguel, um político em ascensão e uma noiva vulnerável e melancólica. “As Verdades” sabe evidenciar como a cultura da regionalidade brasileira, especificamente das terras esquecidas de um interior da Bahia, onde o filme se passa, consegue influenciar a vida de cada morador dentro de conceitos completamente existenciais como a paixão, a liberdade e a justiça.

Para a criação do roteiro, Pedro Furtado se baseou em um dos contos mais célebres da literatura japonesa: Dentro de um Bosque, de Ryūnosuke Akutagawa. A história de “As Verdades” traz o tema universal do conto para uma realidade de vivência típica brasileira, que aproveita do clima intimista de uma ambientação em cidade pequena para conseguir aprofundar discussões substanciais dentro de cada personagem introduzido no filme.
Lázaro Ramos dá vida à Josué, em mais uma performance de grande maestria do artista. Um dos personagens mais interessantes da trama, o policial no decorrer das sequências vira uma representação de pluralidade e apresenta inúmeras camadas de personalidade responsáveis por aproximar o espectador com tal, visto que entendemos cada dor que carrega: um homem frustrado pela tentativa de equilibrar as próprias atitudes entre a racionalidade e o amor, conturbado pela função e no fim do dia, falho como todo ser humano.
A dinâmica narrativa de reconstituir diferentes pontos de vista sob uma mesma cena, além de atiçar a curiosidade e prender a atenção do público, é uma ótima oportunidade de mostrar o poder do elenco de peso do longa. Nomes como Bianca Bin, Drica Moraes, Thomás Aquino, Edvana Carvalho e o veterano José Carlos Machado trazem um espetáculo de atuação na criação de diferentes pontos de vista sob um mesmo personagem, fator que abre o leque de possibilidades para a solução do crime. Afinal de contas, mesmo com a alta carga dramática, o filme também é um Thriller extremamente cativante.
“As Verdades” possui um cuidado técnico tão valioso, que até mesmo a mínima decisão diferente na produção, afetaria toda a atual experiência do público para com o filme. A trilha sonora original e o incrível trabalho na direção de fotografia, que aproveitou dos mais belos cenários de Itacaré na Bahia para seus takes, ajudaram a criar uma identidade única para o longa e intensificar a experiência sensorial durante todos os 103 minutos de duração.
Com direito a um plot twist impactante, o ato final equilibra com excelência os fatores que compõem um Thriller existencial. Não só é responsável por trazer um ritmo mais acelerado e eletrizante para o encerramento da investigação, como também instiga o espectador a refletir sobre as consequências das decisões nas vidas dos personagens envolvidos na trama.
“As Verdades” entra pra lista gigantesca de produções que reafirmam a potência e a rica pluralidade do cinema nacional. O gênero do suspense no audiovisual brasileiro ainda é pouco valorizado e deveria ser mais explorado pelo público, que decidindo por ignorar essas produções, também perdem a oportunidade de consumir produtos de qualidade e que estão por representar muito bem o país mundo afora. O filme está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil.
Assista ao trailer.
Bruno Barros – 1º período
Editado por Lucas Souza – 7º período