Alunos dos primeiros anos do ensino fundamental foram os mais afetados no processo de aprendizagem por conta da pandemia
Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) mostram que em 2020, mais de cinco milhões de crianças não tiveram acesso à educação. Desses, 40% estavam na faixa etária de 6 a 10 anos de idade, justamente fase na qual se desenvolve a alfabetização.
Segundo a professora Luzia de Assis, da Rede Municipal do Rio de Janeiro, um dos fatores para o problema é a dificuldade que os estudantes encontram em se conectar às aulas. ‘’Muitos não têm acesso à Internet, não possuem celular. Quando tem, na maioria dos casos, é só um aparelho que fica com o responsável da família no horário de trabalho’’, afirma.
Durante o período em que as escolas se mantiveram fechadas, houve alguns métodos para que o ensino chegasse até os alunos, como formação de grupo nas redes sociais, entrega de atividades impressas semanalmente aos responsáveis e vídeos explicativos sobre as atividades propostas. Contudo, ainda assim foi difícil desenvolver as habilidades de educação infantil e reverter a situação.
A professora Luzia, que leciona uma turma do terceiro ano do ensino fundamental, se diz preocupada com o cenário pois, no fim desta etapa, em condições normais, espera-se que os alunos consigam ler, interpretar e produzir textos com autonomia. No entanto, a realidade tem sido outra. ‘’Recebi muitos alunos que não reconheciam todas as letras do alfabeto. Não sabiam o que era vogal ou consoante e não tinham desenvolvido consciência fonológica. A impressão que tive ao retornar ao presencial, era que estava lecionando para uma turma de 1° ano”, revela.
Além disso, desde que as aulas presenciais retornaram de forma intercalada, os educadores expõem a dificuldade que estão enfrentando para lidar com o modelo híbrido. Seguir as exigências impostas pela pandemia, cumprir as demandas e preparar aulas para os dois modos com estratégias de aprendizagem distintas para dar conta das dificuldades de cada estudante, está sendo uma árdua realidade.
Segundo a professora do primeiro ano do ensino fundamental da Rede Pública de Ensino, Jéssica Valentim, tal fato se dá devido às precárias condições em que a educação se encontra. ‘’Os alunos não têm o suporte tecnológico para realizar as tarefas, espaço físico em casa para estudar. Há até professor sem aparelho para fazer as aulas’’, explica.
A partir do momento que o segmento de alfabetização infantil é afetado, especialistas alertam sobre o aumento da desigualdade social e os riscos que isso pode acarretar para toda a vida da criança. Nayara Araújo, Coordenadora do Projeto Qualificação Direta em Primeira Infância na FGV, explica que o processo de aprendizagem é contínuo e que a educação infantil constitui parte de uma etapa de educação básica que irá refletir no futuro, sendo ela, uma ferramenta essencial para se quebrar o ciclo de desigualdade. “O acesso à educação de qualidade é um direito social garantido pela Constituição e que deveria ser assegurado, inclusive, em tempos de pandemia”, defende.
Em vídeo, a profissional esclarece as consequências do déficit na alfabetização. Confira:
A alfabetização é um processo fundamental para o desenvolvimento de uma criança que tem reflexo ao longo da vida. Quando o direito à educação de qualidade é negado, a taxa de analfabetismo cresce e exclui uma parcela da população do acesso às informações mais básicas, além de acarretar na falta de oportunidades tanto profissionais, quanto pessoais. A volta aos estudos, de forma 100% presencial, é um desafio para os educadores fecharem o ciclo 2021 e traçar novas estratégias para 2022.
Lorhan Nascimento – 3º período