Luta Antimanicomial: movimento busca transformar o tratamento e os ambientes de pessoas com transtornos mentais

“Por uma sociedade sem manicômios” é a máxima utilizada por grupos acadêmicos, políticos e profissionais da saúde que questionam o  modelo tradicional voltado a internações em hospitais psiquiátricos

“Os loucos são como beija-flores: nunca pousam, ficam a dois metros do chão”,  foi dessa forma que Arthur Bispo do Rosário, símbolo brasileiro na luta pelo fim da cultura manicomial no Brasil, definiu portadores de doenças mentais. No ano de 1983, o artista visual afirmou ter recebido uma missão de Jesus Cristo e, após o relato, foi encaminhado à Colônia Juliano Moreira, onde permaneceu até a morte, 51 anos depois. A partir de histórias de pessoas como o Bispo do Rosário, surge, na década de 70, a luta antimanicomial.

O movimento consiste na luta contra modelos de tratamento que impedem o direito fundamental de ir e vir, bem como a prerrogativa de ser tratado de maneira digna, que não a internação. A ideia defende que manicômios e hospitais psiquiátricos agravam as condições mentais do paciente, o fazendo sentir preso nas próprias complicações. Para a professora de psicologia da Universidade Veiga de Almeida, Aline Drummond, atuante na Luta Antimanicomial há quase duas décadas, é necessário compreender e dialogar com as diferenças de experiências humanas e entender a complexidade da existência.

“O objetivo maior da luta antimanicomial é a introdução de mudanças na sociedade na forma como pensar o louco e a loucura, a diversidade e a diferença”

Aline Drummond
Aline Drummond é doutora em Psicanálise, Saúde e Sociedade e luta por uma sociedade sem manicômios. Foto: Arquivo pessoal

Em 2001 foi promulgada a Lei 10.216 que reforça os direitos de portadores de transtornos psicológicos, a Lei reitera o acesso ao melhor tratamento de saúde, respeito e humanidade quando estiver aos cuidados médicos, a proteção contra abusos, explorações e completa transparência no tratamento para com o paciente, recebendo informações sobre a doença e sobre os recursos terapêuticos.

Entretanto, mesmo com a promulgação da norma, dados divulgados pelo Ministério da Saúde comprovam que ainda existem 159 hospitais psiquiátricos pelo Brasil. Para Aline, não há um planejamento de substituição dos hospitais psiquiátricos em caráter nacional. “Assistimos no cenário nacional o espetáculo de desassistência dos pacientes das redes públicas. Nos últimos anos, nenhum plano concreto foi realizado para o fortalecimento dos serviços substitutivos à internação”, afirma a psicóloga.

“Nem tudo que é diferente, diverso, é patológico”, defende Aline. Foto: Arquivo pessoal

A criação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e a implementação de leitos de saúde mental em hospitais gerais são alguns progressos notáveis na reestruturação do atendimento relacionados à saúde mental. Segundo o Ministério da Saúde, em 2020, entre janeiro e julho houveram 165.564 atendimentos no CAPS. Para Milena Bilate, estudante de psicologia da UVA e pesquisadora do Programa de Iniciação Científica Bispo do Rosário Entre Nós, é necessário tratar do assunto para conscientizar a população: “É importante divulgar que as pessoas com transtornos mentais são produtivas, porque o imaginário social está muito associado ao fato de que eles devem ser excluídos da sociedade, de que não produzem, que podem ser perigosos’’, atesta a aluna.

Com o objetivo de difundir a ideia da Luta, a UVA promove há 17 anos, palestras, oficinas e debates que despertem a atenção da comunidade interna e externa da universidade. Esse ano, a oficina será de maneira virtual com transmissão ao vivo através do canal do curso de psicologia da Universidade Veiga de Almeida, no YouTube. As discussões ocorrerão durante todo o dia, a partir das 7h30 e poderão ser acessadas pelo link: Psicologia UVA – YouTube

A aluna de Psicologia, Milena Bilate, convida o público para participar da oficina nesta sexta-feira (21). Confira no vídeo abaixo:

A busca constante pelo tratamento mais humanizado pode transformar a vida de pessoas com transtornos mentais no país. A luta antimanicomial alerta a sociedade para a reformulação do modo que se enxerga e se trata a loucura. A fim de romper com o modelo de privação que desrespeita os direitos humanos, reinserindo na sociedade aqueles que viveram escondidos.

Nos dias atuais, assistimos a uma ascensão preocupante dos discursos que procuram identificar um outro que possa ser eliminável, segregado e afastado do laço social. No Brasil assistimos a esse retrocesso que certamente levará ao retorno de práticas que negam a função social dos diferentes e das diferenças”

Aline Drummond

Duda Bortoloto e Artur Lavinas – 3º período

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