Segundo pesquisa, mais da metade dos infectados pelo coronavírus deixaram de sentir sabor nas refeições
O distúrbio no paladar é um dos problemas mais comuns nos casos de quem está ou venceu o coronavírus. De acordo com um estudo da Monell Center, espaço científico que reúne especialistas que discutem a saúde humana, 76,2% das pessoas infectadas pela Covid-19 relataram alterações no paladar. Entre os entrevistados, 52,2% tiveram distorções em relação aos gostos básicos (doce, salgado, azedo, amargo e umami) e 5% dos pacientes perderam totalmente o sentido. O estudo utilizou dados brasileiros sobre a doença.
Já de acordo com outro estudo, desta vez publicado na Annals of Internal Medicine, a alteração foi relatada por mais da metade dos entrevistados, cerca de 56,5%. A pesquisa verificou também que a perda parcial ou total do olfato liderou a lista dos sintomas mais comuns, com 87,2% de relatos. A febre, temida por ser um sintoma grave do vírus, foi relatada por menos da metade dos participantes, 40,6%. A pesquisa foi realizada em 18 hospitais europeus de diferentes países e contou com mais de dois mil participantes.
Sendo mais uma vítima que enfrenta as dificuldades do coronavírus, Kaio Serra já sofre com a alteração no paladar há pelo menos uma semana. Ele conta que o primeiro sintoma foi a sensação de mal-estar e, logo depois, as mudanças no sentido. O Coordenador de Comunicação diz que, inicialmente, a maioria dos alimentos não tinham gosto ou, quando tinham, se aproximavam do gosto de farinha; e as bebidas “pareciam com gosto de água”.
“Depois de três dias, eu percebi que os alimentos que eu menos gostava, estavam começando a ficar em evidência. Eu não gosto de couve, cebola e manjericão, por exemplo, e todas as comidas que tinham essas coisas, eu sentia o sabor, mas apenas do que eu não gostava. O restante da comida tinha gosto de farinha. Era estranho!“
Ouça o depoimento de Kaio Serra em que ele fala sobre o seu paladar uma semana após a Covid-19
No entanto, é importante continuar mantendo a alimentação normal mesmo sem estar sentindo o gosto dos ingredientes. Segundo Elisabete Queiroz, Mestre em Nutrição Humana e professora da UVA, a alimentação saudável é indispensável para recuperação do paciente e também da recuperação do paladar. “A grande questão é que mesmo após a cura comprovada do covid-19, a falta do paladar e também do olfato passa a ser uma sequela da doença. Em média, dura de 20 a 30 dias, mas pode durar meses.”, explica.
Além disso, a professora de Nutrição afirma também que os sintomas de anosmia (perda de olfato) e ageusia (perda do paladar) são comuns mesmo com a ausência de sintomas mais graves como febre, tosse e obstrução da via nasal. Infelizmente, segundo ela, não existe nenhuma comprovação de alimentos que melhorem, de fato, esses efeitos. No entanto, ela dá algumas dicas sobre como tentar melhorar o quadro geral da Covid-19.
Ouças as dicas dadas pela Nutricionista Elisabete Neves
A perda no paladar pode ser brusca e para tentar evitar sequelas maiores, é necessário estimular as papilas gustativas. É o que afirma a Doutora em Ciência dos Alimentos, Hellen Maluly. Segundo ela, os alimentos que conferem umami, chamado de quinto gosto básico, estimulam os receptores gustativos por um tempo mais prolongado e esses mesmos estímulos conseguem acionar as glândulas salivares a produzir saliva.
“A salivação é extremamente importante, pois facilita a deglutição, dilui os aromas dos alimentos e contribui para maior aceitação alimentar. Carnes, peixes, vegetais e legumes são ótimas opções, além de cogumelos”, finaliza.
As alterações nos sentidos são sintomas frequentes da infecção por covid-19, mas não são os únicos. Importante lembrar que o país ainda vive a pandemia e que os números não param de crescer. O Brasil ultrapassou a marca de 169 mil mortes pela doença, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa, e o número de casos já ultrapassa a casa dos seis milhões de infectados.
Pedro José Alves – 7° período