Agência UVA Barra: “Adeus à Noite”

Foto: Divulgação – Pandora Filmes

Nos últimos dois anos, a França apresenta um crescimento exponencial da população islã em seu território, fato explicado por uma alta taxa de conversão de jovens franceses para a religião muçulmana. Em janeiro deste ano, o presidente francês, Emmanuel Macron, iniciou discussões com líderes religiosos para alterar a “Lei da Laicidade”, de 1905; o motivo: controlar a influência da religião islâmica. “Adeus à Noite”, filme francês dirigido por André Techiné, narra esta realidade sob um contexto íntimo de uma família miscigenada.

Muriel (Catherine Deneuve – 8º filme com o diretor), uma francesa que morou na Argélia por alguns anos, é casada com Youssef (Mohammed Djouhri), argelino que conheceu durante sua estadia por lá. Alex (Kacey Mottet Klein), seu neto, faz uma última visita antes de se mudar em definitivo para o Canadá, mas esconde um segredo. As reviravoltas do filme se dão sempre em ritmo contemplativo de andamento lento. Por vezes, um pequeno teste para a paciência para os mais ávidos por resoluções dos conflitos. O filme se passa ao longo de cinco dias da primavera de 2015, onde a cada dia os personagens sofrem mudanças em seus comportamentos e temperamentos. Techiné é didático ao justificar a nova escolha religiosa de Alex apresentando motivações do passado como traumas não superados, bem como o amor cego à sua namorada Lila (Oulaya Amamra).

Muriel (Catherine Deneuve) – Foto: Divulgação – Pandora Filmes

O filme caminha bem até a construção inicial do segundo ato. A partir daí a narrativa perde a criatividade e decisões que beiram o inverossímil são entregues ao público. Além disso, o filme apresenta descuidos técnicos na montagem. No ato conclusivo, temos imagens sequenciais que compõem a mesma cena sendo picotadas numa espécie de jump-cut (cortes de transição no movimento) sem propósito.

A fotografia do filme também sofre e perde a linguagem construída ao longo da metade inicial. Com cores brilhantes e saturadas, a composição imagética da etapa final entra num tom acinzentado e os ambientes parecem pouco iluminados, com a lente da câmera tendo que corrigir a captação de luz, levando ruído visual à tela. A cenografia do estábulo, por exemplo, que em determinado momento serve de obstáculo para Alex, é pobre. Faltam materiais cenográficos, objetos de cena, ocupação do espaço por animais, entre outras características usualmente encontradas. A sensação é que faltou prazo ou orçamento para um melhor acabamento e cuidado.

Mesmo com problemas técnicos e imprecisões narrativas, há um crescimento na camada dramática do filme, que se acentua a cada ato, com o clímax em sua conclusão, levando lágrimas aos olhos dos mais emotivos. Neste sentido, ponto para o longa-metragem. De fato, emociona e causa reflexões. Além disso, trata-se de um produto audiovisual de conteúdo relevante e reflexivo e o drama escrito à três mãos – Amer Alwan, Léa Mysiius e André Techiné – cumpre seu papel de cunho social.

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Kadu Zargalio – 4º Período | Jornalismo

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