
Ao pesquisar pela palavra “esquisito”, me deparei com as seguintes respostas:
Encontrado com dificuldade, raro, precioso, fino – desconhecido, estranho, exótico – que não é igual à maioria, diferente, anormal, excêntrico – difícil de explicar, estranho, inexplicável – que denota requinte, delicioso, refinado, delicado – que tem aspecto feio ou desagradável – lugar ermo, vazio, deserto – caminho difícil, escarpado, pedregoso.
Dentre as diversas possibilidades, onde todas se encaixam, fica claro que “Bacurau”, o novo filme de Kléber Mendonça Filho em parceria com Juliano Dornelles é, de fato, esquisito.
Em geral, separamos filmes em gêneros para catalogar de maneira mais simples. Aqui, a tarefa é árdua. Bacurau acumula em sua narrativa a clara presença de faroeste, drama, terror, fantasia (épico) e ficção científica. Não é nenhum absurdo se encaixarmos a comédia neste amálgama de gêneros.
Toda esta mescla é realçada por uma ótima e necessária escolha. A utilização de um elenco verossímil, regionalizado e de aspectos completamente contrastantes entre si. Desde o político corrupto engravatado do município de Serra Verde, passando pelo sujeito mais violento da cidade, “Lunga”, até o povo com suas características ímpares. Tudo isto composto por mistérios e eventos cantarolados em verso e prosa por “Carranca”, em participação especial do músico Rodger Rogério.
Bacurau é um triste retrato da desvalorização da história e da cultura de nacional pelos brasileiros e, porque não, da falsa ilusão de superioridade perante pequenas comunidades ou povos minoritários, ilustrado por um casal de motoqueiros oriundo do sudeste com interesses obscuros. É, também, uma crítica à supervalorização à cultura americana, o famoso comportamento da “síndrome do vira-lata”.
O longa-metragem toca em questões latentes da sociedade brasileira, principalmente nas camadas mais pobres e ainda mais críticas na região nordeste. A falta d’água, os recursos escassos e as intermináveis promessas de um futuro melhor por figurões corruptos que habitam o Brasil desde muito tempo. Ironicamente, os habitantes da cidade têm celulares, tablets, notebooks, projetores, televisores 4k. O povo sabe o que é um drone, eles não acham que é um disco voador, mas do que adianta, se a cidade sequer está no mapa? Se são invisíveis aos olhos de seu próprio país?
A quem recorrer neste cenário caótico? A resposta parece óbvia, embora de difícil decisão. À própria força da comunidade e sua história de lutas no passado por libertação. Um contexto que parece repetir-se em tempos e necessidades diferentes.
Todas as forças imagéticas e sonoras (trilha sonora impecável!) impostas por Kléber Mendonça, e são inúmeras, representam, antes de qualquer característica técnica, uma ode desconstruída que pede urgentemente a valorização do povo brasileiro, seus costumes, riquezas e diversidades, num tom fortíssimo de protesto e posicionamento antiamericano. Não contra o seu povo, mas suas doses de imperialismo.
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Kadu Zargalio – 4º Período | Produção Audiovisual