
Frances McCullen, interpretada pela atriz Chloë Grace Moretz (Kick Ass: Quebrando Tudo, A Invenção de Hugo Cabret, Carrie: a Estranha), resolve levar a bolsa até a casa da pessoa desconhecida. A boa samaritana é uma jovem garçonete de um restaurante de luxo e mora com sua melhor amiga, Erica Penn (Maika Monroe). Ela tem uma relação de afastamento com o pai e ainda não superou a perda da mãe. A dona da bolsa é Greta Hideg, uma mulher solitária e carente, numa atuação complexa de Isabelle Huppert (A Professora de Piano, Amor, Elle), que nos causa uma mescla de sentimentos, da empatia à repulsa.

Trata-se de um roteiro exagerado e suscetível à incompreensão. Em três encontros, Frances e Greta declaram amizade eterna uma à outra. A amiga Erica não consegue entender, bem como é possível que o público não entenda. Após pavimentada, mesmo que de modo superficial, a relação entre as duas, está armado o gatilho para as coisas estranhas da narrativa. Espectadores atentos não terão dificuldade em traçar os acontecimentos ao longo do filme, pois não há plot-twists (ações que mudam radicalmente a direção esperada da narrativa) tão surpreendentes.
Embora não haja um aprofundamento, apenas informações básicas sobre cada personagem para uma mínima compreensão do universo fílmico, o trabalho de Isabelle Huppert é um ponto alto do filme. É fácil se apaixonar pela vilã, uma psicopata que flerta com momentos cômicos, dramáticos e puramente violentos e fetichistas. Porém, um alerta. Caso esteja buscando uma personagem de momentos estáveis, este não é o caso. É o estereótipo de uma louca. Frances é uma caricatura da inocência e da pureza, os mais severos poderão dizer da falta de inteligência, pois não consegue ser racional em nenhum momento e suas decisões são controversas desde o início da narrativa. Erica é histriônica, ou seja, aquela pessoa que gosta de chamar a atenção para si mesma, dissimulada e, mesmo que ganhe relevância ao final, trata-se de uma personagem descartável que cumpre papel de alívio cômico.
“Obsessão” carrega consigo, indiretamente, uma discussão interessante e atual. De fato, é um filme com mulheres, mas que passa longe de ser um ensaio feminista. Apesar do protagonismo feminino, Frances é torturada por Greta numa relação pseudo-matriarcal de característica fetichista e funciona como um escudo do diretor masculino Neil Jordan, que pôde, na imagem de uma mulher, maltratar o sexo feminino.
Mesmo com falhas, exageros e discussões, trata-se de um produto final para ser visto e que não perde a linguagem e essência de filme B americano. O filme estreia nos cinemas no dia 13 de junho de 2019.
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Kadu Zargalio – 3º Período | Produção Audiovisual