
Quem nunca pensou em vencer a morte? Ingmar Bergman, em 1957, com o filme “O Sétimo Selo”, levantou esta questão. Na obra em particular, a morte venceu após uma longa partida. O mesmo não se pode dizer do filme “Cópias”, que traz “Keanu Reeves” ne pele do neurocientista “Will Foster”. A premissa do filme engloba dois assuntos principais: a transferência da mente humana (consciência, inconsciente, memórias…) para robôs e a clonagem humana. A motivação por trás disso é a mesma desde o início da civilização: a imortalidade, mesmo que por outro corpo. E aqui, a morte perde.
Com uma narrativa que soa interessante, é doloroso constatar que, como obra cinematográfica, deixa a desejar. A idealização da temática pelo diretor “Jeffrey Nachmanoff” dificulta a verossimilhança da história. Vivemos numa sociedade onde a realidade apresentada está longe de ser atingida mesmo nos países mais desenvolvidos. Para piorar, o afastamento do espectador quanto à veracidade é elevado a um ponto quase insustentável quando uma característica é posta em prática incontáveis vezes: a imposição do roteiro.
De modo a tornar possível o avançar da história, o roteirista “Chad St. John” retira toda e qualquer barreira substancial que poderia existir em situações mais próximas do dia a dia.
· Enquanto toda a família morre no acidente, “Will Foster” sai ileso;
· O carro termina submerso num lago, mas seu celular funciona normalmente. Afinal, ele precisa entrar em contato com seu melhor amigo, o cientista “Ed Whittle”, interpretado por “Thomas Middleditch”, o mais carismático do elenco;
· Sua esposa, “Mona”, caracterizada pela atriz “Alicia Eve” não tem família e ninguém nota seu desaparecimento. Se houvesse algum familiar, o contexto seria outro;
· Todos os celulares, notebooks e gadgets de sua esposa e filhos estão desbloqueados e prontos para uso para que ele pudesse fingir ser cada um enquanto seus clones eram criados;
· “Ed Whittle” rouba milhões de dólares em equipamentos (sequer sabemos como) da companhia “Bionyne”, companhia onde trabalham, incluindo três cápsulas para clonagem para ajudar seu amigo na empreitada de clonar sua família dentro da própria casa;
· O neurocientista rouba quase 20 baterias dos carros da vizinhas para energizar os equipamentos e apenas é perguntado por dois policiais se ele sabia de algo. Ironicamente, ele diz que não foi roubado. O único carro da vizinhança. E isso sequer desperta curiosidade;
Há dezenas de outras situações de imposição do roteiro que facilitam a história à um ponto que se transforma num grande acúmulo de situações irreais ou, no mínimo, improváveis. É, de longe, o grande pecado do filme.
A escolha por “Keanu Reeves” se mostra contestável. Como neurocientista que lida com robôs e tecnologias avançadas, funciona perfeitamente. Para um pai de família que precisa tomar decisões drásticas, falta apelo emocional. Isto se explique, talvez, pela característica marcante de um ator que se dá muito bem com personagens inexpressivos e sem emoção, tão difíceis quanto de serem interpretados.
A narrativa é incapaz de gerar debates, pois evita levantar questões morais ou religiosas que poderiam contestar o neurocientista ou a grande corporação multimilionária. É, inegavelmente, um filme construído por atalhos, onde a rota escolhida não leva ao melhor caminho.
Como pontos positivos, destaco os bons efeitos especiais (em especial as telas holográficas e o robô “345”), a atuação de “Thomas Middleditch” e a maneira como a tecnologia futurista é apresentada.
“Cópias” é como um garoto promissor de um time de futebol que tem uma carreira bem menos expressiva por não colocar em prática todo o seu potencial. O filme estreia dia 18 de abril nos cinemas de todo o Brasil.
Kadu Zargalio – 3º Período | Produção Audiovisual