
O longa-metragem “A árvore dos frutos selvagens”, do Diretor e Roteirista turco Nuri Bilge Ceylan, tem uma premissa evidente: Sinan é um recém-formado aspirante à escritor que busca levantar dinheiro para publicar seu livro, mas seu pai está endividado, tornando-se um duro obstáculo. Para contar essa história uma narrativa lenta, arrastada e com uma duração enorme. O idioma, por sua vez, causa um estranhamento imediato, mas adiciona uma camada de verossimilhança necessária para a condução do contexto narrativo.
Para uma história simples, o diretor escolhe uma narrativa amarga. São 03 horas e 08 minutos de intermináveis diálogos e cenas demoradas. Se você, como espectador, busca dinamismo e resolução rápida dos fatos, provavelmente abandonará a sessão (como ocorreu em Cannes por parte dos críticos e jornalistas) ou dormirá durante o filme. Independente desta questão, a obra está sendo aclamada pela crítica em geral. No site especializado “Rotten Tomatoes”, por exemplo, o índice de aprovação bate 90%.
Os personagens possuem profundidade, principalmente de “Sinan”, interpretado por Aydın Doğou Demirkol e “Idris”, muito bem desenvolvido ao longo do filme pelo ator “Murat Cemcir”, respectivamente filho e pai. “Sinan”, diga-se, não faz questão de conseguir empatia, nem simpatia do público, jogando duro com o sentimental de quem o vê. Dificilmente você torcerá por ele, mas é provável que não torça contra. É um paradoxo intrigante.

Como roteirista, Nuri Bilge Ceylan aposta na criação de uma estrutura com ares filosóficos que busca constantes reflexões acerca de vários temas por quem o assiste. Costumes da sociedade turca, a ganância por dinheiro, a inveja e, nesta ruína eminente, o amor. Os diálogos, propositalmente extensos, funcionam como debates acerca de temas que adicionam paulatinamente profundidade à trama. A lentidão no andamento talvez seja o carro-chefe da angústia por trás do tema.
Como diretor e idealizador de uma linguagem, o turco traz um conflito de quadros cinematográficos que pode tender do interessante ao tosco, dependendo do ponto de vista. Por vezes lembra uma novela: rostos inteiramente enquadrados em closes, plano e contraplano dos personagens que conversam entre si e a quebra para um cenário maior. Em outras ocasiões remete à uma obra fantástica da mais pura fantasia: mirabolantes paisagens e um personagem solitário, como um herói desolado em face às suas dificuldades.

Adicione à esta narrativa visual uma mescla do uso da fotografia. Cenas com cores neutras e sem brilho, quase como um filme caseiro, em paralelo à cenas com forte saturação e cores brilhantes, remetendo à um conto de fadas. Esta, talvez, seja a fórmula criada para representar o conflito interno de “Sinan”, a dura realidade de seu pai e sua família contra a incessante busca da realização de um sonho. O típico artista atormentado.
Apesar de bela, trata-se de uma obra que definitivamente não é para qualquer um, quiçá para o grande público. É o tipo de filme difícil de ser digerido, mas que com uma boa dose de boa vontade, pode ter um sabor maravilhoso. “A árvore dos frutos selvagens” estreia no Brasil no dia 25 de abril de 2019.
Kadu Zargalio – 3º Período | Produção Audiovisual