AGÊNCIA UVA BARRA ASSISTIU: “Bohemian Rhapsody”

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Foto: Divulgação

Histórias sobre músicos e seus grupos, fictícias ou não, costumam carregar consigo toda uma fórmula pré-definida. Temos um início em que alguém não bota fé que vá ser um sucesso, temos a derrocada do astro e, talvez, até uma superação. “Bohemian Rhapsody” é exatamente uma dessas produções que não conseguem fugir desse padrão. O filme conta a história da mitológica banda “Queen” e seu vocalista Freddie Mercury (Rami Malek) durante 15 anos de carreira, culminando no tão lembrado show “Live Aid”, em Wembley.

Dirigido por Bryan Singer, o mesmo da franquia X-Men, e foi uma produção marcada por contratempos. Singer foi substituído por Dexter Fletcher, que ficou encarregado somente de finalizar as gravações e da pós-produção, e parece que mudança de cargo pode ter afetado a qualidade do produto. Temos aqui um filme raso em alguns momentos, que demonstra não querer se aprofundar nos personagens. Em apenas 10 minutos um ano já se passa na história e várias cenas parecem começar quase do nada, como se tivéssemos que saber de algo antes para contextualizar – mas que não é nos contado. É como se duas horas não fossem suficiente para “Bohemian”, que com um tratamento melhor poderia chegar perto de três horas de narrativa.

A pressa se faz presente em vários momentos da trama. Por exemplo, não é mostrado como Freddie conseguiu conquistar o declarado amor de sua vida, Mary Austin – comprar roupas onde a moça trabalha e fazer um show de rock simples parecem ser suficientes. A falta de profundidade e de um olhar mais sério e até paciente para a história deixam o longa comum, algo difícil de acreditar já que estamos falando de uma das bandas mais famosas do mundo. Além disso, outras decisões soam óbvias demais e até de mau gosto, como a cena em que Freddie assiste na televisão uma matéria jornalística sobre AIDS e suas consequências. Existem opções melhores para apresentar e explorar o contexto da doença, como o próprio filme vai mostrar em outras cenas.

Rami Malek (Mr. Robot) brilha como o astro principal. O personagem já era a alma do Queen e o mesmo pode se dizer neste filme, e surpreende como se demorou tanto tempo para um cantor desse porte ganhar uma “quase” autobiografia. Malek consegue traduzir tudo o que o vocalista foi e faz um trabalho quase impecável, desde os trejeitos ao sotaque, passando pelo talento musical, e certamente será cotado para alguns prêmios dessa temporada. Inclusive, todo o elenco que compõe a banda.

Não podia faltar música. Vários sucessos estão presentes, e é interessante observar o surgimento de algumas canções – como a própria “Bohemian Rhapsody”. O público brasileiro também vai se emocionar com a performance de “Love of my life” que ocorreu no Rock in Rio (apesar da claríssima discrepância de datas, que não vai passar batido da maioria). A cereja de bolo é o show histórico em Wembley, em 1985, em que Freddie conduziu um público de mais de 80.000 pessoas. O espectador não deve resistir e, eventualmente, vai acabar cantando junto a um espetáculo à parte de Rami Malek, apontada como a melhor cena do filme (pelo meu olhar).

Na soma, temos uma produção divertida e contagiante, mas que não é suficiente para ter grande destaque ou de ser um clássico moderno. O filme também peca por estrear pouco tempo depois de “Nasce uma estrela”, um musical de grande sensibilidade, e escancara a diferença de foco entre os dois. Ironicamente, Malek tem potencial para alçar seu Freddie Mercury a um status de “versão definitiva” do personagem, mas o mesmo não pode ser dito da banda que o astro ajudou a criar. Parece que o Queen ainda vai esperar por olhares mais profundos e com menos clichês.

Lucas Motta – 7º período

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