Redução do desperdício de peças e da poluição são os pontos principais de eventos Eco-fashion
O conceito de moda sustentável, chamado também de “eco-fashion”, que se tornou mais popular entre jovens nos últimos anos, remete, na verdade, à década de 1960 — época de alta do movimento hippie. Isso se dá pois o movimento de contracultura defendia o uso de roupas vindas de trabalhadores locais, feitas à mão, ou que já fossem usadas.
Todos esses pontos vão na contramão do modelo contemporâneo de produção da indústria têxtil, que busca produzir produtos novos em fábricas, de maneira massiva e gerando toneladas de material em excesso, que acabam por ser descartados. Atualmente, a área têxtil representa, sozinha, 4% das emissões de carbono no mundo todo; e é a segunda indústria mais poluente do planeta, segundo a organização Global Fashion Agenda, vindo atrás apenas da indústria de petróleo.
É buscando alternativas para não contribuir com esse processo, que pessoas como Patricia Ferreira, de 47 anos, personal stylist e dona de brechó, se voltam para o eco-fashion. “Eu acho que a moda sustentável não é modinha, ela é mudança de atitude, de mente”, afirma a vendedora.
O viés ecológico se conecta com o trabalho de Patricia pois, como defende a brecholeira, participar de venda de usados faz com que peças que poderiam ficar guardadas em casa ou irem para o lixo, ganham novo destino, sendo reutilizadas por outras pessoas e evitando desperdícios.
A personal stylist trabalha nesse ramo há cerca de dois anos, desde a pandemia, e começou seu negócio na cidade de Petrópolis. Lá participa, desde a segunda edição, do Ecobrehó Park, o maior evento de brechós do estado do Rio de Janeiro. Foi através do evento que ela conheceu outras cinco mulheres, com as quais se associou e fundou a loja Peça Única, para facilitar a busca de clientes por roupas específicas e disseminar a cultura dos brechós.
O Ecobrechó Park, criado em dezembro de 2019, também em Petrópolis, teve sua primeira edição carioca nos dias 14, 15 e 16 de abril. O espaço trouxe mais de 40 expositores, todos engajados na causa sustentável, e a feira recebeu cerca de 3.000 pessoas somente no primeiro dia, segundo os organizadores.
A coordenação dos produtores é feita por Ana Mayworm, que também é uma das fundadoras. Ana conta que já foi dona do próprio brechó, mas cansada de ver seu modelo de negócio sendo desacreditado em outros encontros de moda, criou o próprio evento. “Se você me perguntar ‘sua ideia inicial era a feira?’ Digo que não. Eu só queria expor em algum lugar com o meu brechó, mas como não consegui, tive eu que fazer a feira”, explica a fundadora.
Um problema transformado em oportunidade. Hoje, Ana se dedica à organizar o evento, sem o próprio brechó, para instigar o consumo de roupas com preocupação ambiental.
Ouça no áudio abaixo a visão de Ana sobre a moda sustentável:
Sustentabilidade é essencial também para Agda Cíntia Rabelo, profisssional formada em moda há mais de dez anos, que trabalha em seu próprio brechó, mas também é sócia da Peça Única.
Agda, que leva para dentro de casa o interesse ambiental — fazendo separação de lixo e ensinando a filha sobre o tema — comenta que diante da grande poluição da indústria da moda a contribuição dos brechós é pequena, mas vai gerar resultados. “A gente não vai ser o grande ponto de partida que vai reduzir isso tudo, mas o pouco que cada um fizer vai gerar expectativas melhores para um futuro mais sustentável”, explica a profissional.
A compra de roupas usadas ou de pequenos produtores com consciência ambiental evita o aumento da indústria poluente, e como um bônus, é também uma opção mais em conta no bolso do consumidor. Segundo a própria Ana Mayworm: “Com 40 reais é possível comprar uma camisa que você vai usar umas duas, três vezes e vai jogar fora, e isso não é sustentável. Você comprar alguma coisa boa, alguma coisa de qualidade, isso sim conta muito mais pra sustentabilidade”.
Confira algumas fotos do evento:
Foto: Pedro Lima
Pedro Lima – 4º Período