O segundo longa-metragem de Anita Rocha da Silveira, “Medusa” (2021) chega aos cinemas brasileiros no dia 16 de março, após despontar com uma carreira consolidada no circuito de festivais e passagens pela Quinzena dos Realizadores de Cannes e pelo Festival Internacional de Toronto, dois dos mais cobiçados eventos cinematográficos do mundo. O filme foi premiado no cenário internacional como Melhor Direção, no Sitges Film Festival, e melhor filme no Tromsø Int. Film Festival, entre outros. No Brasil, a produção faturou os prêmios de melhor filme, melhor direção e melhor atriz coadjuvante para Lara Tremouroux e participou da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Foto: Divulgação
“Medusa” é um projeto, com inspiração direta no mito grego de mesmo nome e transporta para este cenário para uma sociedade onde o fanatismo religioso leva os devotos a atitudes extremas e a rivalidade feminina contida no exemplar da mitologia grega. O filme coloca em debate o machismo estrutural disseminado pela sociedade brasileira, por uma abordagem que incorpora a fantasia e a mistura de gêneros cinematográficos entre o horror, o suspense e elementos da comédia e do musical.
Mariana (Mari Oliveira), é uma jovem que participa de cultos religiosos, com a vida regrada para atender os bons costumes, conservar a boa aparência, elementos reiterados pelos amigos e pela conduta da Igreja que frequenta. Ela se reúne a um grupo que ao utilizar máscaras ao longo da noite busca mulheres adúlteras para punir com agressões físicas. Entretanto, um acidente que leva a integridade física de Mari à risco, evoca dúvidas e questionamentos por parte da jovem.
O projeto não segue um viés realista e o que pode ser comprovado com situações absurdas ao decorrer da projeção. Isso não impede que os personagens possuam camadas psicológicas complexas que são trabalhadas ao longo do filme. Mari, por exemplo, apresenta um perfil convencional de personagem, na qual confrontada com um acontecimento inesperado, assim vive transformação social e interna. A evolução do personagem, entretanto, traduz um ponto de identificação, trazendo camadas de complexidade como a influência do outro pode exercer impactos devastadores sobre o corpo, o credo e a moral.
A fotografia do filme é assinada por João Atala e se destaca com cores vibrantes em que os tons neons são realçados. Uma cor em destaque fica por conta do verde que simboliza a natureza, vida nova e também o próprio mito que dá título ao filme e sintetiza uma estética que remete a um gênero popularizado de filmes de terror, em especial na Itália, o Giallo.
A trilha sonora é carregada de músicas eletrônicas com forte utilização de sintetizadores que carregam sensações e inquietudes para o espectador. Existem também releituras compostas diretamente para a produção como a canção “Jesus É Meu Amor”, uma versão gospel do sucesso romântico “Sonho de Amor”. Assim como interpretações diretamente para o filme de músicas como Baby It’s You, Vaca Profana, Rising Sun Blues e Wishing On a Star interpretados por Nath Rodrigues, Marina Sena e nomes do elenco como Carol Romano e Mari Oliveira. Além da presença das músicas Uma Noite e ½ e Cities in The Dust que podem ser ouvidas em momentos importantes para o filme.
Medusa é um filme que acena para percursos originais e autênticos para tipos de filmes que ainda não são distribuídos nas salas comerciais com frequências, e que pode agregar debates e questionamentos que podem ser potencializados no cinema. Assista ao trailler!
Márcio Weber – 2° período