Uma peça de teatro que se manteve em cartaz por mais de 10 anos, ganha o formato para as grandes telas dos cinemas. A releitura cinematográfica de mesmo nome marca a estreia do criador da história na direção, o ator Gero Camilo, que também estrela o longa ao lado do ator companheiro dos palcos, Marat Descartes. “Aldeotas” é uma experiência harmoniosa entre o teatro e o cinema, tanto na preservação de elementos teatrais, como pela aposta do cenário audiovisual nacional.

A narrativa acompanha a história do poeta Levi, que depois de 30 anos afastado da cidade natal, retorna às terras para o adeus a um amigo especial, Elias, no dia de seu velório. Nas circunstâncias de um último encontro, o espectador é transportado para os momentos e memórias passadas de uma amizade que se construiu no sentimento mais puro de confiança e amor entre dois garotos que dividiram a infância e adolescência na cidade de “Coti das Fuças”, que limitava o desejo dos jovens amigos em conhecer um mundo muito maior do que o interior que os prendia.
Gero Camilo pode gerar certa estranheza ao público geral quando escolhe por contar essa história de uma maneira não tão convencional para o cinema. Rodada inteiramente em um galpão da cidade de São Paulo, a produção se encontra com os conceitos do teatro quando decide por transformar aquele ambiente monocromático e vazio, em diferentes cenários significativos para os dois personagens centrais. Isso acontece como num grande palco: as cenas divergem de tom com ajuda da iluminação e das cores, num espaço com o mínimo de elementos compondo os cenários.
O cenário não é o único aspecto que remete ao cênico. O texto de “Aldeotas” se mantém tão preciosamente fiel à linguagem teatral que é facilmente possível imaginar como o espetáculo aconteceria em cima de um grande palco com a casa lotada. A oportunidade que o cinema oferece para a obra, é a chance de fazer com que o espectador foque em detalhes que são importantes para a relação de conexão pela história dos personagens e que possivelmente poderiam ser perdidos na representação nos palcos.
Os dois atores em corpos mais velhos desafiam e provam o poder mágico da atuação ao revisitar e assumirem os momentos em que os personagens são crianças ou adolescentes. Performances que destacam a expertise do elenco e provam mais uma das infinitas possibilidades que o teatro oferece quando o assunto é contar uma história.
Um filme que toma o cuidado necessário para tratar de assuntos delicados como homofobia e violência, num roteiro poético e original que desbrava os caminhos da memória e sensações de lembranças marcadas pela ânsia da liberdade, a luta contra a repressão e a censura, por meio de uma amizade tão bonita.
“Aldeotas” tem produção e distribuição da Gullane e estreia nos cinemas no dia 17 de novembro e traz bons motivos para ser uma surpresa à quem não confia no poder do audiovisual nacional. Assista ao trailler:
Bruno Barros – 2° período