Com poucos investimentos na saúde, famílias precisam pedir ajuda na internet
Não possuir plano de saúde é a realidade de muitos brasileiros. Segundo o relatório divulgado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), 77% dos brasileiros não têm assistência médica privada. O desemprego, a pandemia e a instabilidade econômica no país são os principais motivos dessa abstenção. Entretanto, as mensalidades altamente caras também alavancaram esse declínio.
O Sistema Único de Saúde (SUS) é o conjunto de todas as ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público. O SUS traz uma espécie de rede de apoio para os brasileiros que não possuem planos de saúde e precisam de atendimento médico a todo custo.
Por mais que exista um sistema organizado pelo governo para ajudar a população, ainda assim, muitas pessoas acabam não recebendo o auxílio necessário que se é prometido. De acordo com o estudo do Banco Mundial, mais de 10 milhões de brasileiros caem na pobreza por ano devido a gastos de saúde. Uma das maiores despesas são os medicamentos, representando 84% dos gastos feitos pelo próprio bolso das famílias por todo país.
Devido a esses enormes gastos causados pelos tratamentos realizados por pessoas que não possuem assistência médica privada, existe uma plataforma online chamada “Vakinha”, que seria um site que cria “links” para pessoas que necessitam arrecadar dinheiro com a intenção de conseguir apoio financeiro. O uso desses “links” estão relacionados para a compra de medicamentos caros, realizar cirurgias, ou ajudar em tratamentos que os hospitais públicos não cobrem, ou estão com uma fila de espera enorme.
O contador Paulo Augusto da Silva, possui 4 filhos e um deles é Ryan Jesus de 6 anos. Ele revela que seu filho sofre de autismo e tem convulsões diárias. Para Paulo, ultimamente houve muitas mudanças em que só pioraram a vida de sua família. “Meu filho Ryan necessita de remédios controlados para não sofrer as convulsões mais pesadas. Antes tínhamos a possibilidade de pegar de graça no SUS. Faz uns 5 meses que não tem mais. A farmácia popular vendia mais barato. Lá também não tem mais. Resta pagar em média 320 reais por mês, então resolvendo criar a vaquinha para ajudar nas despesas”, expressa.
Para quem depende da rede pública, o problema é encarar a falta de medicamentos e as longas filas de espera para exames. A médica pediatra do SUS de Botafogo, Bruna Gurgel acredita que é preciso mais investimentos na saúde pública. “As comunidades menos favorecidas precisam de mais atenção nas clínicas da família, conseguindo assim auxílio do governo”, relata.
A médica alega que a baixa falta de investimento, a desvalorização dos funcionários, as grandes demandas e filas enormes fazem com o que exista uma sobrecarga também na vida dos profissionais da área da saúde. “Existem muitos desafios no dia a dia do SUS. Todo o sistema de administração precisa ser melhorado, além da atenção básica que passa por um grande desafio, pela necessidade de priorizar investimento de política, instrumento de gestão, a própria estratégia da família”, comenta Bruna.
Para a terapeuta, Bianca Oliveira, o SUS deveria oferecer um atendimento emocional para pessoas que precisam estar em consultas médicas, já que a falta financeira do plano de saúde traz uma fragilidade para o povo brasileiro. “Somos um ser que precisa de cuidados diários, então se o corpo e a mente não vão bem, todo seu contexto também não irá. Pessoas que sofrem de doenças crônicas e estão constantemente nos hospitais em grandes filas de espera, com medo de perder a vida, precisam sim de uma ajuda psicológica também”, expõe.
Com a falta de medicamentos, as filas enormes e os baixos investimentos nos hospitais públicos, muitas pessoas recorrem a vaquinhas online. É o caso da estudante Valéria Claudino, de 22 anos. Ela diz que os médicos a aconselharam a criar um molde feito a mão e como não obteve uma experiência boa no SUS, não chegou a ver se eles faziam por lá. “Eu tive um AVC a um tempo atrás e fui levada ao SUS e os médicos simplesmente não sabiam como me diagnosticar, só tempos depois fui diagnosticada com ansiedade e internada em um hospital psiquiatrico”, comenta.
Valéria criou a vaquinha online e alega que conseguiu arrecadar todo o valor necessário para o molde feito a mão e acredita que todos deveriam ter bons recursos de saúde pública. “Em 4 dias conseguimos 50% do valor e logo após a minha vaquinha viralizou e um empresário doou os outros 50% que faltava, tendo assim, o valor total”, explica.
Ana Júlia Queiroz 7º período