Reduflação: o que é e como afeta o consumidor

Entenda como a tática de mercado tem influenciado o consumo de muitos brasileiros

Biscoitos saborosos, de bom tamanho e preço justo. Barras de chocolate com 200 gramas. Pacotes de frango com um quilograma. Hoje, tais descrições já não condizem com a realidade dos mercados brasileiros. Pelo contrário, consumidores têm observado a mudança em composição e peso de produtos, fator capaz de afetar o gosto de alimentos e qualidade nutricional. 

O fenômeno ganhou o apelido de reduflação, junção das palavras redução e inflação, que caracteriza o processo no qual produtos diminuem de tamanho ou quantidade, enquanto o preço se mantém o mesmo ou sofre algum acréscimo. Na prática, é uma estratégia comercial adotada por empresas para evitar a queda da venda de alguns itens, como produtos de limpeza, alimentos e guloseimas. Ao utilizar ingredientes mais baratos na composição e atualizar as fórmulas ou reduzir embalagens em algumas gramas, o comprador se inclui na citada tática de mercado. 

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Reclame Aqui, ao entrevistar mais de 6,6 mil clientes, quase 80% das pessoas já notaram o processo de ajuste nas embalagens, enquanto 63% dos consumidores têm a reação de desistir da compra. Por mais que a atividade possa soar ilegal, o Código de Defesa do Consumidor afirma que, caso cumpra todas as exigências previstas, é permitida.

Marcos Lima, professor de direito na Universidade Veiga de Almeida, explica melhor sobre a prática abusiva. O Doutor em Direito faz referência ao Art. 6º – III do Código de Defesa do Consumidor, que defende a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificações de quantidade, característica, composição, qualidade e preço. Sendo assim, quando a empresa não fornece informações facilmente visíveis sobre mudanças em um produto, o ato consiste em uma atitude ilegal. “A inexistência da informação adequada e obter vantagem ilícita constitui a prática abusiva”, completa o professor universitário. 

Mesmo que a reduflação não seja exatamente contra a lei, alguns consumidores consideram tal movimento como antiético e, em alguns casos, absurdo. Por isso, é comum observar muitos usuários dispostos a reclamar nas redes sociais e fazer denúncias sobre a atual movimentação do mercado, a fim de compartilhar a informação e o descontentamento com a mudança de fórmulas e diminuição de embalagens. 

O jovem Álef de Oliveira é um exemplo, pois comentou na internet o que pensava a respeito de uma certa marca de biscoitos recheados, ao enfatizar a insatisfação com o alimento após atualizar a receita, reduzir a quantidade e aumentar o preço. “Deixei de comprar, porque está caro e a qualidade diminuiu”, relata o militar em formação. 

Além disso, para pessoas que trabalham diretamente com alimentação, a situação tende a ser ainda mais crítica. “Para a gente que trabalha com comida, está muito complicado”, diz Márcia Regina, cozinheira. Em sua fala, Regina conta que, com o aumento dos preços, fica difícil obter os ingredientes necessários para montar as quentinhas que prepara. “Hoje compramos peito de frango por um preço e amanhã por outro. Os preços estão subindo praticamente toda semana. Cada dia é um preço diferente”, relata. 

A cozinheira exemplifica situações que presencia no mercado, como não encontrar mais pacotes com um quilo de frango, mas 800 gramas; ou cartelas de ovos com 20 unidades, que aparentam ter o mesmo custo de uma antiga cartela de 30 ovos. Da mesma forma, também percebe a mudança nos rótulos, como manteiga produzida pela mistura de margarina, assim como leite condensado semi-desnatado ou de mistura láctea. “Está ficando muito complicado para a gente continuar trabalhando”, completa.

VÍDEO: A NUTRICIONISTA PATRICIA SOUZA EXPLICA A DIFERENÇA ENTRE INGREDIENTES E O IMPACTO NA SAÚDE. CONFIRA O VÍDEO:


Dentre as diversas trocas de ingredientes citadas pela nutricionista, permanece a questão da quantidade. Será que o encolhimento de alimentos traz algum benefício à saúde? 

A professora de nutrição na Universidade Veiga de Almeida explica que, dependendo do produto, existe um ponto positivo. “Se for um produto ultraprocessado, ou seja, alimentos com alto valor energético, ao diminuirmos a quantidade, falamos de menor ingestão de tais ingredientes maléficos quando ingeridos em alta quantidade, que podem causar diabete ou hipertensão”, afirma a profissional. Patricia também destaca sobre a redução nos alimentos in natura ou minimamente processados. “Provavelmente, tais produtos diminuíram em gramas, então para os que seguem dietas à risca, seria necessário recalcular de acordo com a quantidade nas novas embalagens”, recomenda a nutricionista. 

A fim de orientar o consumidor em uma melhor escolha durante as compras, Patricia Souza deixa algumas dicas, como: olhar a data de validade dos produtos; ler a denominação de venda, que explica a mercadoria; perceber a lista de ingredientes; e observar a tabela de informação nutricional, especialmente o potencial VD, que consiste em Valor Diário, responsável por indicar a porcentagem de consumo diário de algum ingrediente. 

Déborah Gama, 2° período.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s