O reflexo de rivalidades tóxicas, acusações e medidas extremas, dão a tônica de “Morte. Morte. Morte”. Ao confinar e forçar o convívio de amizades longevas e de parceiros amorosos que não conheciam um grupo de cinco amigos, o filme é uma crônica da dificuldade de convivência em situações de desconforto.

Sophie está afastada dos amigos, mas decide encontrar David e apostar novamente nessa amizade, ao mesmo tempo que a jovem leva consigo a namorada. Apesar de pequenos conflitos e estranhamentos pontuais, tudo parece relativamente estável, até que a ameaça de um furacão os força ao confinamento e tão logo eles decidem fazer uma brincadeira que consiste em descobrir e apontar o assassino de um corpo, porém a gincana passa a ter contornos inesperados.
O enredo lembra as obras de Agatha Christie, pelas dinâmicas de mistério envolvendo um assassinato e contando um grupo seleto de possíveis suspeitos. “Morte. Morte. Morte.” se aproxima de um título em específico “E não sobrou ninguém”, adaptado no cinema por René Clair no filme homônimo em 1945 e mais recentemente transposta no formato de minissérie com “Não Sobrou Nenhum” da BBC One.
Os elementos chaves deste filme dialogam entre a obra de Christie e o filme de Halina Reijn. O fato da trama se passar em uma mansão e especialmente ter um elemento oculto, intriga ao descobrir o assassino que provavelmente está entre os convidados e especialmente de ter um personagem misterioso, no qual fica oculto saber se ele está presente enquanto os conflitos se desenvolvem ou não.
O filme dá uma nova roupagem ao mistério, com o destaque para a trilha musical com o forte apelo eletrônico, de sintetizadores que tanto ambientam um cenário festivo e tipicamente jovem do século XXI, como também provoca tensões e desorientam o espectador ao passo que a projeção se desenvolve.
A fotografia privilegia o contraste entre tons escuros e focos de luz pontuais ao longo da casa. E abusa da escuridão da parcimônia da luz, fazendo com que muitas vezes os personagens mal sejam vistos, o que brinca com o contraste entre uma completa escuridão e a iluminação parcial de lanternas de celular e adereços festivos. Há uma contribuição para o incômodo, a desorientação espacial e um elemento crucial para corroborar com a aflição dos personagens.
O roteiro certifica de usar os elementos para jogar personagens contra personagens e estimular ações questionáveis e extremas. A falta de sinal do celular garante a incomunicabilidade. Descobertas, revelações e acusações são articuladas para que não se tenha nenhum momento de sossego. Apesar de estar associado diretamente ao gênero de horror, os cinco roteiristas do filme estreitam gradualmente a relação com uma comédia de humor negro e isto pode ser visto abertamente no terceiro ato.
“Morte. Morte. Morte.” trata de questões contemporâneas, sendo um retrato geracional de posturas, pensamentos e ideologias problemáticas e abertamente conflituosas, onde apontamos facilmente o dedo para outras pessoas. Talvez autoconsciente da temática em excesso e usando de artifícios simplistas para articular a trama, entretanto trata-se de um filme em que dificilmente deixará o espectador indiferente.
A obra estreia hoje, 06/10, nos cinemas brasileiros. Confira o trailer.
Marcio Weber – 1º período