Cora é uma jovem na flor da idade, encantada por música, em especial as do cantor Marcello Bianchini, recordista de sucessos na Itália, polida pelo pai, ironicamente ele também se chama Marcello. Lúcia, a avó, é uma mulher madura, imponente e racional e vive questões mal resolvidas com o cunhado e irmã que vivem na Itália. A morte repentina e precoce de Marcelo, faz com que ambas retornem para a cidade de origem no país do continente europeu e a viagem traz à tona conflitos, revelações, experiências e acontecimentos tanto para Lúcia e especialmente para Cora.
“Duetto” é ambientado em meados da década de 60 e traz referências que remetem ao período, desde mídias como a vitrola, a baixa qualidade das transmissões da televisão, em preto e branco e os televisores de características datadas, as performances de auditório em festivais de canções, além das vestimentas, carros e espaços que são bem defendidos pela direção de arte assinada pelo veterano Daniel Flaksman, colaborador frequente do diretor Vicente Amorim.
O longa é filmado na região da Apúlia, uma cidade de vasta costa mediterrânea, com presença abundante de campos agrícolas e arquitetura barroca. Amorim não abre mão das possibilidades cênicas que as locações já possuem e utiliza belas imagens provenientes das locações externas e tornando Apúlia protagonista de alguma forma por refletir o estado de espírito dos personagens.

O filme é embalado pela música, com interpretações musicais do ator Michele Morrone e, também, de uma uma trilha sonora muito presente para pontuar e acentuar conflitos, ditar sensações, ritmos e atmosferas como um todo, porém fluem de forma razoavelmente orgânica.
Ter uma trama em que os personagens se deslocam e migram para outras regiões não é recente para Vicente Amorim, que abordou este tema em Corações Sujos (2011) e O Caminho das Nuvens (2003). Na filmografia do diretor estão produções internacionais faladas em outra língua, casos de “Um Homem Bom” (2008) e A Princesa Yakuza (2020). No caso de “Duetto”, passado, e em grande parte falado no idioma italiano, o que o diferencia dos demais são como as raízes são vistas, isto é, o retorno de um lugar de pertencimento inato queira os personagens ou não e a relação mais íntima e particular onde a trama se passa.
Luísa Arraes traz para a protagonista uma interpretação que mescla um comportamento impulsivo e imaturo com outros contrastantes como uma extroversão, melancolia, doçura e rebeldia. A presença marcante de Cora, mesmo que irregular contrasta com as de Lúcia, interpretada com a segurança e firmeza de Marieta Severo, que diga-se de passagem tem embates e interações genuínas e convincentes particularmente com Giancarlo Gianini. Apesar da proposta do embate geracional existir, há acontecimentos que entrelaçam a trama, falta uma maior principalmente no campo narrativo como a relação de Cora com a mãe interpretada por Maeve Jinkings e a interação com o personagem de Gabriel Leone.
“Duetto” conta com qualidades singulares, contudo, são enfraquecidas por personagens que tem uma profundidade muito reduzida e subtramas frágeis, o que torna uma experiência acidentada. A obra estreia nos cinemas a partir do dia 29/09.
Confira o trailer:
Marcio Weber – 1º período