Os efeitos do esgotamento mental

Entenda como a volta das atividades presenciais e a rotina corrida tem afetado as pessoas

É difícil calcular exatamente os impactos da pandemia. Muitos viveram o luto de perder alguém próximo, outros desenvolveram crises de ansiedade, por não saber ao certo quando o período pandêmico se finalizaria. Em meio a tantas batalhas para preservar a sanidade mental, foi necessário se acostumar ao “novo normal”. A partir da flexibilização do uso de máscaras, retorno de atividades totalmente presenciais e a distribuição de vacinas, o esgotamento mental tornou-se um sentimento comum à grande parte dos brasileiros.

Naara Cavalcante, 22 anos, servidora pública e estudante de direito, conta que a adaptação às atividades presenciais tem sido uma experiência exaustiva. Durante a pandemia, a estudante saía para trabalhar de manhã, voltava para casa, estudava de tarde e assistia às aulas remotas da faculdade no período da noite. Porém, desde o retorno do ensino presencial, Naara tem um intervalo curto entre as atividades e confessa que não aguenta mais a rotina frenética e a constante estafa mental. “O cansaço mental é real e afeta o corpo como um todo”, afirma.

Para muitos estudantes e trabalhadores, a rotina tem mudado, especialmente aos funcionários de carteira assinada, que, em grande parte, tinham a opção da modalidade Home Office, mas voltam a todo vapor de forma presencial. Segundo a futura advogada, ela já perdeu a conta de quantos dias não dormiu direito para ficar acordada estudando ou trabalhando, por vezes sentada na mesma posição por mais de 20 horas. “Eu não trabalho de forma braçal, mas tem dias que sinto tantas dores físicas, na coluna e na cabeça, que parece ser trabalho braçal”, completa.

De acordo com uma pesquisa feita pelo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) em 2017, foi constatado que 98% dos brasileiros se dizem cansados e 61% afirmam estarem exaustos. Luiz Quirino, de 17 anos, também tem uma rotina incansável, ao cursar o ensino médio e técnico simultaneamente e, ao fim do dia, trabalhar. O jovem relata que durante a crise sanitária não conseguiu absorver totalmente o conteúdo do curso técnico, por isso quando as aulas presenciais voltaram, ficou desanimado ao ver a quantidade de assuntos e práticas pendentes.

O estudante diz se sentir angustiado por estar em um curso técnico no qual não se adaptou, mas precisa finalizar. Ele completa dizendo que a rotina é desgastante, justamente por sempre precisar se deslocar e por não encontrar prazer no estudo. “Estudar algo que não aprendi e que não gosto por ser muito desgastante”, revela.

Um produto do cansaço mental é a desesperança. A psicóloga Vanessa Gonçalves acredita que o ambiente social seja capaz de modificar o comportamento e, consequentemente, as emoções do ser humano, portanto reflete sobre a importância de focar em situações positivas. “Quando focamos apenas em situações negativas, pode contribuir para o aumento do estresse e sentimentos de desesperança, desencadeando inclusive gatilhos para crises de ansiedade”, declara.

A psicóloga Vanessa Gonçalves comenta sobre o alto número de pessoas que sentem cansaço mental.


Nathalia Reis, 19 anos, também tem uma rotina similar à de Naara e Luiz. Ela tem pouco tempo para descansar durante o dia, noites de sono rápidas, correria do trabalho para a faculdade. Com dias corridos a jovem já teve uma crise de pânico em uma dessas situações. Além do esgotamento mental de conciliar faculdade e trabalho, a estudante de letras também destaca que o transporte público é mais um motivo de estresse. “Todos sabem como é para uma mulher pegar transporte público às onze da noite. Eu já cheguei em casa chorando, tremendo, com um cansaço extremo dessas situações”, relata.

A universitária não passava por essas situações até alguns meses atrás, quando podia ter aulas à distância e na segurança do lar. Cansada de se desgastar mentalmente no trajeto até a universidade, Nathalia tem inseguranças sobre o futuro profissional, sem esperanças de conseguir emprego na área que deseja e medo do mercado brasileiro.

Para se distrair do estresse diário, Nathalia, Luiz e Naara, afirmaram tirar um tempo para si mesmos. Ao optar por ver um filme, dormir, chorar, sair com os amigos ou praticar exercícios físicos, aqueles que vivem o esgotamento mental encontram tranquilidade em atividades que são prazerosas para cada um e tempo para se recuperar.

A psicóloga Claudia Keller enfatiza o poderoso efeito de exercícios físicos no processo de regulação emocional. Para a profissional, eles ajudam a equilibrar corpo e alma. “Uma vez que, a atividade física interfere diretamente na produção de elementos fundamentais para a sensação de alegria, bem estar físico e mental, felicidade, regulação do humor, produção de energia e motivação”, explica. Claudia também ressalta como é importante reconhecer a necessidade de ajuda, procurar acompanhamento psicológico, aprender a identificar emoções, reforçar emoções positivas, utilizar técnicas de relaxamento, dentre muitas outras alternativas.

Déborah Gama – 1º período
Editado por Lucas Souza – 7º período

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