Como o alto preço de serviços e produtos causados pela inflação interfere no poder de compra do brasileiro
Cerca de um quarto da população brasileira possui uma renda mensal equivalente ao valor de um salário mínimo, que atualmente é de R$ 1.212, valor estipulado pelo governo federal. Porém, segundo cálculos da corretora de valores e câmbio Tullett Prebon, o poder de compra do salário mínimo caiu cerca de 1,7% nos últimos 4 anos.
Segundo dados do IBGE, a inflação acumulada nos últimos 12 meses (abril de 2022) é de 12,13%, o que gera uma alta nos preços de produtos e serviços. O DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) realiza mensalmente a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos e no relatório de fevereiro deste ano, São Paulo foi a capital onde a cesta básica apresentou o maior custo, R$ 715,65. Para quem ganha somente um salário, sobrariam R$ 496,35 para os outros gastos.
Muitos brasileiros tiveram que mudar a forma de fazer compras no mercado devido ao alto custo dos alimentos, como por exemplo abrir mão de alguns itens ou diminuir a quantidade de outros. É o caso de Maurício Neves. O profissional da área de educação física diz que costumava consumir carnes todos os dias em casa, mas com a inflação, teve que diminuir para 3 ou 4 vezes na semana. Além disso, ele comenta sobre o aumento de itens como arroz, carnes e óleo: “Nos últimos três meses eu tenho gasto cada vez mais nas minhas compras de mês, por exemplo, gastando x no primeiro mês, 2x no segundo mês, e quase 3x no terceiro mês”.
Além dos gastos com alimentação, os brasileiros precisam se preocupar com os aumentos dos custos de moradia, como aluguel, gás de cozinha, contas de luz e água, por exemplo. Com base em dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) o gás de cozinha teve um aumento de 23,2% entre março de 2021 e março de 2022.
Maurício fala sobre o efeito aumento do gás de cozinha no orçamento.
Para a professora Denise Pinto, o maior impacto causado pela inflação em seu dia a dia foi na conta de luz. Denise também precisou mudar alguns hábitos alimentares, mas segundo ela, alguns alimentos seguiram sendo fundamentais em sua dieta, como: feijão, arroz, açúcar, óleo, carnes, frutas, verduras e legumes, principalmente por causa das vitaminas e sais minerais, explica a professora. Além disso, ela precisou abrir mão de alguns itens supérfluos, segundo ela.
No áudio abaixo, a professora Denise Pinto diz como foi renunciar certos produtos.
Além do gás de cozinha, os combustíveis também sofreram um aumento considerável no preço. A gasolina, em maio de 2022, chegou ao preço médio de R$ 7,29 no Brasil, um recorde desde que esse levantamento começou a ser feito em 2004 pela ANP. Para o economista Luís Macahyba, um dos motivos para explicar esse aumento é o conflito entre Rússia e Ucrânia no Leste Europeu. “As economias hoje são globalizadas, por exemplo, a Rússia é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, e com a redução da oferta do petróleo russo isso faz subir o preço do petróleo, impactando o custo da produção de todos os derivados”, diz Luís.
O Banco Central do Brasil procura medidas para tentar controlar a subida da inflação e a mais recorrente é o aumento da taxa SELIC, que corresponde a taxa básica de juros da economia.
No vídeo abaixo, Luís explica qual a relação do aumento da taxa de juros com a diminuição da inflação e dos preços no mercado.
O salário mínimo para o ano de 2022 foi fechado em R$ 1.212, conforme estabelecido pela Medida Provisória n° 1.091/2021 assinada pelo presidente Jair Bolsonaro e publicada no Diário Oficial da União no dia 31/12/2021. Este valor corresponde a um reajuste de 10,02%, que acompanha a variação da inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preço ao Consumidor).
Segundo o DIEESE, o salário mínimo serve de referência para mais de 50 milhões de pessoas, sendo 24 milhões beneficiários do INSS. Em uma estimativa do governo, para cada aumento de R$1,00 no salário mínimo, as despesas crescem cerca de R$ 364,8 milhões ao ano. De acordo com o economista, isso não deveria ser um problema: “O ideal era que o salário mínimo tivesse aumentando para além da inflação, de maneira que os pensionistas tivessem seu poder de compra aumentando, e não estagnado”, afirma Luís.
Igor Concolato – 1° período