Conhecida como a maior laguna hipersalina em estado permanente do mundo, ela nem sempre teve o prestígio de atualmente. O local já passou por várias mudanças e conseguiu superar um período de grande poluição
O crescimento populacional é algo que mexe inteiramente com a estrutura de um lugar, e na Região dos Lagos não foi diferente. Em 1974, com a chegada da Ponte Rio-Niterói, o local passou por diversas mudanças, dentre elas, o aumento da poluição na maior laguna hipersalina do mundo, a Lagoa de Araruama.
O crescimento populacional é algo que mexe inteiramente com a estrutura de um lugar, e na Região dos Lagos não foi diferente. Em 1974, com a chegada da Ponte Rio-Niterói, o local passou por diversas mudanças, dentre elas, o aumento da poluição na maior laguna hipersalina do mundo, a Lagoa de Araruama.
A Lagoa de aproximadamente 160 km de extensão abrange Arraial do Cabo, São Pedro da Aldeia, Araruama, Cabo Frio, Iguaba Grande e Saquarema, municípios que não eram tão visitados antes da ampliação dos acessos à região. O cenário muda completamente no período em que ocorre a inauguração da Ponte Rio-Niterói, uma das maiores do mundo.
A economia da Região dos Lagos foi alavancada com o consequente aumento populacional e do turismo, pontua a geógrafa Alexssandra Juliane Vaz em sua dissertação de mestrado. Mas as mudanças não param por aí. “Com o desenvolvimento das cidades nas margens da lagoa de Araruama, ela passou por um processo de eutrofização (poluição) acelerado, saindo dos padrões de normalidade”, explica no documento.
Uma das principais razões para que o local tenha sido considerado em avançado processo de eutrofização (poluído), foi o despejo do esgoto in natura, que passou a acontecer frequentemente. Dalva Mansur, ambientalista, afirma que muito disso se dá pela má gestão da época. “Na verdade, o que afetou o saneamento foi a falta de planejamento e perspectivas de planejamento urbano por parte dos gestores locais”, pontua.
A consequência disso foi o aumento de algas, que por sua vez começaram a morrer, fazendo com que bactérias tivessem que decompô-las, o que trouxe algumas alterações à vida marinha. “A mortandade (dos peixes) ocorreu por falta de oxigênio, devido ao excesso de algas”, explica a ambientalista.
A situação foi piorando cada vez mais e, em um certo ponto, muitas pessoas acreditavam que o saneamento básico do local não poderia ser recuperado. “Quando era pequeno, costumava brincar às margens da lagoa. Algo que me marcou muito foi o odor fétido, que até mesmo desconcentrava do que estávamos fazendo. Era assustador, não dava para entrar”, conta Matheus Gomes, morador da região.
O homem conta que, quando mais novo, tinha medo de mergulhar na laguna. “Tinha vontade de dar um mergulho, afinal, o lugar sempre foi bonito. Mas o cheiro de sal misturado com esgoto era enjoativo e, como era jovem, ficava receoso do que poderia acontecer”, conta.
As coisas começam a mudar com a chegada da Prolagos, Concessionária de abastecimento de água e esgotamento sanitário. O estado avançado de poluição no local fez com que a concessão com os municípios fosse adiantada de 2008 para 2002, após acordo feito juntamente ao Poder Concedente (prefeituras da área de concessão e governo do Estado), Consórcio Intermunicipal Lagos São João (que reúne diversas ONGs, inclusive de pescadores de São Pedro da Aldeia), Agência Reguladora (AGENERSA) e Ministério Público. Desde então, o atendimento em esgotamento sanitário passou de zero para 80,12%, de acordo com a empresa.
O sistema de tratamento adotado foi o de captação a tempo seco. “O esgoto que corre pela drenagem pluvial é desviado para coletores e o resíduo transportado para estações de tratamento, retornando para o meio ambiente dentro dos padrões ambientais”, explica a Concessionária.
“A Concessionária foi importante, pois ouviu os anseios da sociedade civil. Atualmente se encontra muito melhor que nos anos 2000. Na época a lagoa ficou horrível, cheia de algas marrons, que davam um péssimo aspecto. Hoje ela está em franco progresso de recuperação. As análises mostram claramente como ela está melhorando, além da observação visual”, diz Dalva Mansur.
Vale pontuar que a chegada da Prolagos dá início a algo além do tratamento da água e do esgoto. O saneamento básico modifica por completo a vida dos moradores ao redor da Lagoa, pois traz benefícios que têm início na saúde e educação e vão até o desenvolvimento social. Além de trazer à tona espécies que há muito eram vistas no local. Nos últimos meses deste ano, por exemplo, cavalos-marinhos, animais ameaçados de extinção, foram flagrados no local.
Outro setor beneficiado com o aumento do saneamento básico na região é o turismo. Em Cabo Frio, Carlos Cunha, secretário da pasta, afirma que, comparado aos últimos anos, principalmente se tratando do acesso ao local, o movimento tem aumentado bastante. “As pessoas frequentam bastante o local, principalmente nos fins de semana. Ali virou ponto de piquenique e passeio”, afirmou.
Para o próximo ano, contando com as frequentes melhoras, várias atividades já estão sendo planejadas. “Acontecerão passeios de pescas tradicionais, em que os próprios pescadores realizariam a ‘viagem’, utilizando dessa forma, o turismo comunitário”, explicou o secretário.
“Nos orgulhamos por executar um trabalho que colabora com a recuperação da Lagoa de Araruama, que vai além de investir em saneamento. É promover qualidade de vida e assegurar um legado ambiental, de turismo e geração de renda para a população”, declara Pedro Freitas, presidente da Prolagos.
Ludmila Lopes – 7º período
Matéria feita para a disciplina de Edição Multiplataforma em parceria com a Agência UVA Barra.