Diagnóstico precoce e suporte psicológico como pilares no combate ao câncer infantojuvenil

A ausência de conhecimento geral sobre o tema dificulta o tratamento médico

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o avanço da medicina no tratamento de tumores malignos proporcionou o índice de cura em torno de 80% nas crianças e adolescentes, caso sejam diagnosticados precocemente em centros de saúde especializados. Ainda assim, eles são a primeira causa de morte nesta faixa etária, com 8% do total. O enfrentamento passa pela disseminação de informações sobre o câncer infantojuvenil, à medida que o desconhecimento pode ser fatal para a superação do paciente.

Segundo o oncologista José Eduardo Lamarca, é justamente a falta de informações um dos problemas do combate aos tumores nesta fase da vida. “É preciso ter campanhas de orientação e educação sobre esse tipo de câncer. O retardo do tratamento é fatal no adulto, já, nas crianças, dá para recuperar em grande parte. Por isso que a cura está no diagnóstico precoce”, afirma. Além disso, a ausência de entendimento da população é vista quando os responsáveis pelo paciente sequer suspeitam, na maioria das vezes, de algo mais grave quando aparecem os sintomas.

Um exemplo disso é Cátia Rodrigues, mãe da Letícia que começou a ter dificuldade para enxergar a partir dos 8 anos. Ela levou primeiro a filha ao oftalmologista e, somente na segunda consulta com outro profissional da área, descobriu um tumor no cérebro. “No primeiro momento, eu não quis acreditar. Fomos ao hospital para fazer a tomografia e a ressonância que confirmaram o craniofaringioma. Mesmo depois dos exames, busquei um neurologista particular porque eu ainda não aceitava o resultado”, diz.

Cátia Rodrigues comenta a importância do acompanhamento médico no tratamento da filha Letícia.

Taisa de Lima desconhecia a doença na faixa etária infantil, até que veio o diagnóstico de tumor do filho  Guilherme, com 4 anos na época. “Até aquele momento, eu não conhecia ninguém que tinha sido diagnosticado com a doença do meu filho ou qualquer outro tipo de câncer quando criança. Eu entendia que somente as pessoas mais velhas eram acometidas”, lembra. Ela destaca a resiliência do então menino que, mesmo após ter ficado paraplégico, demonstrou ainda mais vontade de viver.

Taisa de Lima fala sobre o desdobramento do tumor na coluna e a reação do filho Guilherme.

Apesar do câncer infantojuvenil gerar sequelas para o resto da vida do paciente e da família, histórias de superação mostram que é possível combatê-lo. É o caso da Marianna, diagnosticada com neuroblastoma desde os 2 anos de idade. Adriana Rezende se surpreendeu com a determinação e coragem da filha que ficou sem andar e fazer necessidades fisiológicas, porém, não deixou se abater pela doença. “Ela reagiu muito bem. Embora a pouca idade, fez tranquilamente a quimioterapia, nunca teve problemas de passar mal, tirando as recorrentes infecções urinárias”, fala.

Assim como Marianna e Letícia, Guilherme foi tratado no Inca e recebeu ajuda de casas de apoio, com direito à hospedagem, alimentação, transporte e suporte psicossocial. A mãe dele classifica como essencial a hospedagem em um dos institutos na continuidade do tratamento do tumor. “Tenho um enorme amor e gratidão, porque a gente se sente seguro para compartilhar experiências e vê casos semelhantes ou piores que o do seu filho. O câncer deixa sequelas psicológicas devastadoras e, se não estiver bem amparado, você fica perdido”, comenta.

Como uma forma de manter a positividade por tudo que viveu com a filha Letícia, Cátia passou a valorizar mais a vida e enxergar o mundo com outros olhos a partir do momento que viu de perto os impactos do câncer infantil. Adriana também ampliou a visão de mundo e pretende levar a experiência como ensinamento aos outros. “Agora entendo o tema. Muita gente próxima ficou sabendo por causa da minha filha. Se alguém da minha família também tiver, tomara que isso não aconteça, eu sei como dar suporte, orientar, respeitando sempre o médico”, conta.

O Dia Nacional do Combate ao Câncer Infantojuvenil foi celebrado na última terça-feira (23). As estimativas foram de 8.460 novos casos no ano passado com base no Inca. Para José Eduardo Lamarca, as condições para o acompanhamento médico deixam a desejar, ao mesmo tempo que a recuperação do paciente está ligada ao olhar clínico no início da doença. “No geral, são tumores que tem muito a oferecer e tratar, havendo um alto índice de cura, mas ainda é uma área de pouco alcance e devemos incentivar o diagnóstico precoce”, destaca.

Lucas Ribeiro – 6° período

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