Pesquisa apresenta dados que comprovam panorama prejudicial para população preta e parda ao redor do país
Os negros são as maiores vítimas de homicídios no Brasil. Eles representam 77% dos assassinados e a possibilidade de morte é 2,6 vezes superior àquela de uma pessoa não negra. Os dados são do Atlas da Violência 2021, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em conjunto com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), e se referem ao ano de 2019.
O estudo comprova que a taxa de violência letal contra pessoas negras, que representam a soma de pretos e pardos de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é 162% maior do que o total de amarelos, brancos e indígenas. Nos últimos anos aconteceu uma redução do número de assassinatos em geral no país, porém, desde 2009, há um aumento de 1,6% dos homicídios entre negros, atingindo 34.446 vítimas em 2019. Enquanto isso, a diminuição das taxas de homicídio de não negros é 50% superior à população mais afetada.
O fenômeno dos homicídios contra negros não é novidade no Brasil. A pesquisa aponta que a desigualdade racial se perpetua nos indicadores sociais da violência e mostra que ainda não existe sinais de melhora. Segundo Dennis Pacheco, Pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os fatores que dizem respeito ao aumento da vulnerabilidade e violência letal estão ligados aos aspectos socioeconômicos, como renda e escolaridade. Além disso, o Cientista em Humanidades comenta que a intensa concentração de viés racial entre as mortes violentas ocorridas no país remete ao passado. “O Brasil foi fundado sobre essa desigualdade social e racial. Não é uma coisa pontual, é da estrutura da nossa sociedade”, conta.

A taxa de homicídios de negros diminuiu 15,5% em todo o país, no entanto, em seis estados do Nordeste e em cinco da Região Norte ela aumentou. Acre e Rio Grande do Norte foram os locais com maior aumento, com 114,5% e 100,4%, respectivamente. Já no Rio de Janeiro, apesar de apresentar redução acentuada de 42,6% nos índices de assassinatos entre negros no período de 2009 a 2019, ainda exibe números críticos, com 27,5%. O percentual já esteve em 70,1%.
O estudante carioca, José Henrique, conta que já foi agredido física e verbalmente por autoridades. O jovem de 18 anos fala que sentiu medo de morrer e acredita que o principal motivo para as abordagens foi o preconceito racial. “A única explicação para eu ter sido agredido foi ser negro, já que no local estavam também pessoas brancas que nem sequer foram revistadas,” revela.
Apesar do medo que sente quando vai às ruas, José ainda tem esperança de que no futuro o cenário seja diferente. “Creio que a sociedade ainda vai ter a capacidade de evoluir ao ponto de que não haja mais nenhum tipo de discriminação daqui a algum tempo. As pessoas precisam se conscientizar de que todos somos iguais”, expressa.
Assim como a transformação do pensamento da sociedade, também é fundamental o investimento em ações governamentais mais efetivas para reverter o quadro negativo de preconceitos, como ressalta Dennis. “Não vamos conseguir mudar sem investimento em políticas públicas que sejam refinadas para públicos específicos, como transexuais, negros e moradores de territórios desfavorecidos. Essas são as pessoas que mais precisam e que tradicionalmente são as menos atendidas”, explica.
Dennis Pacheco comenta sobre Poder público e violência contra população negra.
O Pesquisador também destaca que além das políticas públicas, é importante implementar mudanças no imaginário social de todas as pessoas. “Essa perspectiva é fundamental para mostrar o lugar do negro, a importância da produção intelectual negra, das ações negras e atividades desempenhadas por pessoas negras de um modo geral”, finaliza.
João Henrique Reis – 6º período
José Paulo Gonçalves – 6º período