Novembro Azul: diagnóstico precoce enfrenta barreiras sociais no combate ao câncer de próstata

Apesar das evidências científicas sobre os exames de rotina, o toque retal encontra resistência em meio a estereótipos

De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a chance de cura do câncer de próstata — o segundo mais recorrente na população masculina — é de 90% se for identificado na fase inicial. Os especialistas recomendam que os homens com histórico familiar da doença façam a checagem médica a partir dos 40 anos e quem não possui antecedentes, desde os 45, ambos com intervalo de 1 ano. O diagnóstico se dá através do exame de sangue do PSA (antígeno prostático específico) e do toque retal. Ainda assim, há indivíduos que negam a ciência devido ao preconceito e à masculinidade frágil.

Com a pandemia, a SBU revelou que o número de consultas urológicas no Sistema Único de Saúde (SUS) caiu 33,5% de 2019 para 2020. Em consequência disso, houve queda de 27% dos exames de PSA e de 21% das biópsias de próstata no mesmo período. O urologista Edson Braune sentiu uma redução nos atendimentos em meio às medidas restritivas, o que propicia o alastramento da doença. “Sem os exames para o diagnóstico precoce, o médico não percebe a evolução da doença e, quando o paciente volta ao consultório, ela já pode estar no estágio avançado, dificultando o tratamento adequado”, alerta.

Mesmo com o avanço da vacinação e com o afrouxamento das medidas restritivas, a procura por médicos continua baixa, com 1,8 milhão até julho (2021), contra 2,8 milhões (2020) e 4,2 milhões (2019) — dados obtidos pela SBU . Edson Braune destaca que os tumores de próstata só produzem manifestações clínicas ou sintomas quando atingem a cápsula prostática, ou seja, em uma fase relativamente avançada, o que mostra a importância dos exames de rotina. Neste ano, a estimativa de novos casos é de aproximadamente 66 mil com base no Instituto Nacional do Câncer (Inca), sendo boa parte sem diagnóstico, tendo em vista a diminuição das consultas na pandemia.

Ciente da diferença do olhar clínico no tratamento do câncer de próstata, o empresário Pedro Balestieri é do grupo de risco — pai e irmão já tiveram —  e se antecipou na descoberta do tumor. “Eu já fazia o exame da próstata desde os 40 anos. Inclusive ainda não tinha completado 1 ano de intervalo quando eu insisti em realizar novamente. A biópsia identificou dois tumores bem no início e operei logo para evitar complicações”, diz. Além disso, ele lembra da morte de amigos para a doença que menosprezaram os efeitos da detecção prévia.

Pedro Balestieri, empresário, conta como foi a descoberta do câncer de próstata.

Preconceitos ao local do exame da próstata

O machismo e a homofobia, presentes no cotidiano, se refletem no comportamento de negação ao toque retal. Para a psicóloga Ruth Santiago a idealização do sexo masculino está ligada a esse sentimento de rejeição. “A imagem que a sociedade passa é sempre de um homem forte, viril que não precisa de tantos cuidados quanto às mulheres. O local do exame pode levar a uma crença que afeta a masculinidade ao descobrir uma doença nessa área”, declara.

A psicóloga Ruth Santiago analisa o comportamento de negação do homem ao toque retal.

Mesmo ciente da gravidade de não realizar o exame da próstata anualmente, Cláudio, que optou por não se identificar com o nome de registro, jamais o fez e se garante apenas no resultado do PSA. Na visão de Edson Braune, é comum aparecer pacientes desse tipo, ao mesmo tempo que ficou mais fácil convencê-los com a maior repercussão do assunto ao longo dos anos. “Antigamente eram mais numerosos, mas, com a conscientização da população, eles diminuíram bastante, porque é só explicar o risco que correm quando não fazem o diagnóstico precoce e o tratamento adequado”, comenta.

Na tentativa de acabar com os estigmas acerca do câncer de próstata, o Novembro Azul busca conscientizar a população sobre os benefícios do diagnóstico precoce e os malefícios de deixar o preconceito ofuscar a própria saúde íntima. Para se ter noção do cenário recente, a taxa de mortalidade aumentou 10% de 2015 para 2019 segundo a SBU, já que ainda há homens que resistem aos procedimentos médicos por questões sociais.

Lucas Ribeiro – 6° período

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