Petróleo, real e política participam diretamente da variação dos custos e os motoristas recorrem à opção mais viável financeiramente para trabalhar
Nada está tão ruim que não possa piorar. Em meio às crises econômica e sanitária, os brasileiros ainda têm que lidar com o aumento dos preços dos combustíveis. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o valor da gasolina já avançou 31,09%, enquanto do diesel apresentou alta de 28,02% no acumulado deste ano até agosto. A desvalorização do real frente ao dólar e o custo do petróleo no mercado internacional são fatores que influenciam nos acréscimos ao consumidor.
O valor do combustível nas refinarias, mais os impostos — estaduais e federais — e o custo de distribuição e revenda levam ao preço final. Para o engenheiro da Petrobras Lineu do Rosário, o petróleo está diretamente relacionado às oscilações nos preços dos combustíveis. “O Brasil precisa importar petróleo. Quando o valor internacional dele aumenta, consequentemente o dos combustíveis também vai subir”, declara. Além disso, ele também destaca o impacto da taxa de câmbio nesse processo à medida que o real desvalorizado eleva a importação do produto.

A alta da gasolina, por exemplo, fez com que o preço médio do litro se aproximasse de R$ 6 segundo o levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O reflexo desse encarecimento já é visto na prática com os motoristas de aplicativo. A Associação de Motoristas de Aplicativos de São Paulo afirma que 25% da classe deixou de trabalhar para as plataformas desde o início da pandemia. Quem buscou uma alternativa para não desistir da profissão foi Marcelo Ribeiro, que optou pelo Gás Natural Veicular (GNV) por ser mais acessível. “O GNV é o mais em conta hoje, apesar de estar caro também. Está na faixa de R$ 4, enquanto a gasolina custa acima de R$ 7. É o que dá para trabalhar no momento, principalmente em aplicativo”, diz.
Regina Carvalho, taxista nas horas vagas, também age da mesma forma. Ela prefere o gás natural ao etanol por ter um rendimento similar com um preço menor, ainda que o primeiro tenha aumentado o custo como os outros combustíveis. “No início da pandemia, eu pagava na faixa de R$ 2,89 e hoje em dia você acha a R$ 4 ou R$ 3,99 nos lugares mais baratos. O etanol já custa em torno de R$ 5”, lembra. É justamente a crise econômica provocada pela Covid-19 que Lineu do Rosário atribui a queda no consumo dos derivados do petróleo, como a gasolina, o gás natural e o óleo diesel, o que afeta o rendimento das empresas.
Outro fator que faz diferença na dinâmica de preços dos combustíveis é a crise política e institucional vigente. As ameaças, ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e às eleições por parte do governo Bolsonaro causam uma instabilidade na economia do país — já duramente afetada pela pandemia — , sendo prejudicial para a valorização do real e uma consequente queda nos valores dos combustíveis. Na última segunda-feira (27), o Presidente da República, Jair Bolsonaro, lamentou a realidade dos custos da gasolina e do dólar durante discurso no Palácio do Planalto. A cotação do dólar bateu R$ 5,37 na segunda e o preço médio da gasolina, na última sexta-feira (24), era de R$ 6,09.
Lucas Ribeiro – 6° período