Gênero fluido, ou genderfluid em Inglês, está ganhando espaço e voz na sociedade

Gênero: aquilo que diferencia socialmente as pessoas entre homem e mulher. Esse era o conceito dominante até pouco tempo atrás. Entretanto, a Comissão de Direitos Humanos de Nova York (EUA) reconheceu mais de 30 gêneros oficialmente, entre eles o gênero fluido. A ideia da fluidez é quase literal: gênero fluido é aquele que transita entre os gêneros.
A atriz Bárbara Paz e a cantora Demi Lovato se assumiram como gêneros fluidos. A Disney trouxe um personagem de gênero fluido, o Loki, da franquia Marvel, e fez história no mês do orgulho LGBTQIA+. Hoje, a manifestação é pelo respeito às pessoas do gênero fluido para que elus tenham a liberdade de ser quem são de direitos fundamentalmente humanos.
Eduardo Bianchi, professor de Comunicação Social da UVA, explica que o gênero fluído tem uma relação pessoal atemporal, não fixa. A pessoa flui entre os gêneros, assim como o nome “fluído” descreve, ou seja, é um processo em que elu pode se identificar como homem e mulher, como também fora do vínculo binário.
Noah Souto (sobrenome fictício) estuda psicologia e se declara como uma pessoa do gênero fluido. Elu recebe o apoio de amigos, mas informou que ainda não é assumide para a família. “Quando criança eu brincava de ser menino, de ser o pai, de ser sempre o homem da relação. Hoje em dia, eu entendo o motivo disso, porque me sinto tanto homem quanto me sinto mulher”, disse Noah.
Os amigos e a namorada de Noah têm preocupação e cuidado em utilizar corretamente os pronomes neutros, assim como, elu prefere que as pessoas se refiram com o último pronome de preferência delu. Ao encarar o preconceito, Noah tenta explicar de forma resumida para que as pessoas possam entender. “Acho que tudo é uma falta de informação, às vezes dói, não posso negar”, contou Noah.
Segundo levantamento da revista científica Nature, cerca de 1,2% da população brasileira, ou 3 milhões de pessoas, rejeitam o modelo de gênero feminino e masculino. O gênero fluido traz outras questões como o gênero não binário, que podem ou não fazer parte desse grupo. “É um processo muito complexo de auto identificação da pessoa”, afirma Eduardo.
Além da auto identificação, o reconhecimento da própria identidade pelos outros também é importante. Os pronomes neutros atendem as pessoas de gênero fluido e utilizá-los corretamente é fundamental num diálogo ou conversa. A língua tem uma questão cultural e sempre deve-se perguntar sobre qual pronome a pessoa se identifica, e como elu quer ser chamade. “Deve se evitar o X e o @, pois eles são difíceis de pronunciar, difíceis de identificar, tem uma questão com pessoas com deficiência visual e a utilização da letra “e” é o ideal”, declarou o professor.
“Uso dois nomes, um quando me sinto mulher e outro quando me sinto homem. Noah é significado de liberdade”
Noah Souto
Graziela Mota é professora e coordenadora do curso de letras da Universidade Veiga de Almeida e ela tem a preocupação em usar uma linguagem plural e diversa, uma vez que empatia e respeito são a base nas aulas da Graziela. “Sempre tento usar os pronomes referentes ao gênero fluido, principalmente quando a comunicação é feita através de um texto – aviso aos alunos. O exemplo, quando oriundo do docente, tem um efeito importante: didático”, afirmou a professora.
A Língua é responsável pela interação comunicacional entre emissor e receptor da mensagem, escrita, ação da leitura e interpretação. O processo da linguagem se configura como uma importância pessoal e coletiva aos indivíduos diariamente, como também, é a base para a sociedade realizar a função da comunicação.
“O uso dos pronomes referentes ao gênero fluido pode fazer com que haja uma maior aproximação entre os falantes do português, principalmente no contexto de ensino-aprendizagem”
Graziela Mota
Graziela Mota, professora de letras, fala sobre a importância do debate sobre a diversidade no vídeo abaixo.
De acordo com a professora, há possibilidade de modificar a Língua Portuguesa para incluir pessoas do gênero fluido e quem não se identifica com os gêneros masculino ou feminino, mesmo com as polêmicas que podem surgir sobre algo considerado como “correto”. “A partir de discussões bem fundamentadas e de muita pesquisa teórica para enfrentar aqueles que defendem a gramática normativa, torna-se possível modificar a Língua Portuguesa para uma língua mais inclusiva e respeitosa”, concluiu a doutoranda em Estudos de Linguagem.
A luta de Noah é mostrar que as pessoas do gênero fluido existem e fazer faculdade de psicologia significa ajudar pessoas como elu que estão se descobrindo. “Espero que em um futuro próximo as pessoas não tenham tanto preconceito com a questão do gênero fluido”, respondeu Noah.
Apesar da onda de conservadorismo do Governo Federal vigente, há uma resistência presente para a promoção da inclusão e o respeito para todes. São artistas LGBTQIA+ que usam a voz para levar a representatividade e pessoas que fazem a diferença diariamente num país marcado pela diversidade regional, cultural e social.
Noah Souto (sobrenome fictício) pediu para não ser identificade na matéria por meio de fotos. Elu escolheu não se expor, pois não falou sobre a particularidade pessoal com todos.
Pedro Amorim – 4° período
Pedro Araújo – 3° período