Dia do Orgulho LGBTQIA+ acende o debate sobre preconceitos

Agência UVA Barra prepara uma série de reportagens que vão ressignificar essas narrativas

Há 52 anos, no dia 28 de junho de 1969, gays, lésbicas e travestis, se rebelaram contra uma ação policial que tinha como objetivo fechar o bar Stonewall Inn, em Nova York. O lugar era um refúgio e se tornou um marco na história contra LGBTfobia. A rebelião durou seis dias e junho ficou conhecido mundialmente como o mês do Orgulho e da diversidade. No Brasil, a luta por direitos segue necessária e a Agência UVA Barra preparou uma série de reportagens que suscitam a conscientização e orgulho de ser quem cada um é. 

Educar a sociedade e mobilizar ações afirmativas podem acontecer de diversas formas e ajudam a diminuir o preconceito existente. Com os avanços da tecnologia digital a comunidade LGBTQIA+ ganhou uma tela de expressão e luta e muitas pessoas usam a rede para combater o preconceito. Segundo o professor, jornalista e pesquisador em gênero, Eduardo Bianchi, os movimentos de resistência encontram nas redes a possibilidade de conexão. “A gente precisa se apropriar das tecnologias, usar a nosso favor e das pessoas que amamos.”

Ouça o áudio de Eduardo Bianchi sobre o uso das redes sociais 

No mundo offline, a realidade é outra. Em 2020, o Brasil ocupou o 1º lugar no Ranking dos Assassinatos de pessoas Trans no Mundo, o estado do Rio de Janeiro ficou em quinto lugar. Apesar dos números, o Brasil ainda não possui uma legislação específica para o crime de LGBTfobia. 

Os crimes contra pessoas LGBTQIA+ são enquadrados na Lei nº 7.716/89, que traz no texto especificações para crimes de racismo no Brasil. Segundo o professor Eduardo Bianchi, a medida mais urgente para combater a LGBTfobia seria a criação de uma Lei específica para defender a comunidade. “A gente precisa de leis punitivas, mas também de projetos de leis governamentais, que tenham o empenho efetivo do governo para transformar a cultura”, afirma Eduardo. 

Com o objetivo de tornar as denúncias mais rápidas, a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), em parceria com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), desenvolveu um aplicativo que facilita o pedido de socorro e denúncias. O app leva o nome de Dandarah, em homenagem a travesti que morreu vítima de violência.

Entretanto, a possibilidade de conexão virtual não inaugurou as mobilizações de resistência. O grupo Arco-íris foi criado em 1993 e de lá pra cá segue atuando no campo da educação com objetivo de ajudar no desenvolvimento social, respeito à diversidade, reconhecimento da cidadania e direito das pessoas LGBTQIA+. “Nós também desenvolvemos apoio psicológico, para pessoas LGBTIs em situação de depressão ou dor, para que ela possa retomar uma certa estabilidade emocional”, afirma Claudio Nascimento, presidente do grupo Arco-íris.

Ouça o áudio de Claudio  Nascimento sobre a atuação do Grupo Arco-íris

Assim como apoio psicológico, o grupo oferece apoio jurídico. O objetivo é possibilitar a denúncia e garantir o respeito da sociedade no combate à violência. “Nenhum servidor tem o direito de tratar de forma discriminatória ou desigual pessoas LGBTIs em relação aos heterossexuais. O atendimento tem que ser igual, cuidadoso levando em conta as necessidades de cada caso”, diz Claudio Nascimento.     

O medo de sofrer violência na hora de denunciar pode fazer com que a vítima desista de prestar queixa ou buscar medidas mais rigorosas. A esquizoanalista e pesquisadora Bruna Amato fez uma denúncia, apesar das dificuldades durante o processo. “Sofri uma dupla violência porque fui violentada inclusive dentro de delegacias por agentes públicos que se recusaram a registar boletim de ocorrência ou que fingiram receber a denúncia mas não registravam no sistema”, relata a pesquisadora.

Atualmente, Bruna trabalha como voluntária na ONG ADEH (Associação em Defesa dos Direitos Humanos com Enfoque na Sexualidade), que atende e acolhe mulheres LBTQIA+ vítimas de violência, sediada em Florianópolis. Ajudar jovens LGBTs que passam por abandono familiar, por dor, enfrentam o preconceito e a exclusão social é o que move esse trabalho. 

“A sociedade é LGBTfóbica, misógina, racista e capacitista e essa práticas nos constituem como sujeitos,  permeiam a educação de casa, a formação acadêmica, as instituições, as leis, as relações familistas, enfim, tudo que conhecemos e reconhecemos” 

Bruna Amato

Apesar de ter a resistência como raiz, o mês de junho é o mês do orgulho e hoje, dia 28 de junho, é o marco mais importante. Para Bruna, celebrar a própria identidade e existência é motivo de orgulho, na opinião dela, essa deve ser uma data de resistência e acolhimento às pessoas que sofrem com preconceitos por conta da sexualidade ou identidade de gênero. “Não expulsem de casa os jovens LGBTs, não agridam, não xinguem, não violentem. A sociedade fará isso todos os dias. Saber que em casa terá acolhimento, apoio, inclusive para lutar por seus direitos, às vezes é a diferença fundamental entre morrer ou permanecer vivo.” 

Ao longo desta semana, a equipe de repórteres da Agência UVA Barra vai tratar de diferentes e diversos temas relacionados ao Orgulho LGBTQIA+. As entrevistas e as matérias multimídias vão representar esse mosaico que a própria sigla traz e que não exclui, mas inclui. Acompanhe pelo Instagram ou pelo nosso site como essas narrativas que são marcadas por lutas, dores, resistência, amor, alegria e dignidade constroem a sociedade em que vivemos. Você é o nosso convidadx a dialogar com Orgulho.

Sabrina Marques, 3º período, com colaboração de Rafaela Barbosa

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