Iniciativas transformadoras combatem a pobreza menstrual

No Brasil, uma a cada quatro pessoas que menstruam não têm acesso a absorventes.

No mês da visibilidade menstrual, discussões relevantes acerca dos direitos da população à higiene menstrual vieram à tona. A pauta “pobreza menstrual” foi amplamente debatida, por se tratar de uma questão de dignidade, equidade de direitos e saúde pública. O termo refere-se a pessoas que têm privações de acesso a produtos de higiene menstrual, por questões econômicas e sociais.

De acordo com a Organização, Livre Para Menstruar, cerca de 30% da população brasileira menstrua. Incluem-se meninas, mulheres, homens trans, pessoas não binárias e intersexuais. Dentre essa parcela, pessoas em situação de rua, privadas de liberdade e vulneráveis socioeconomicamente fazem parte das vítimas da pobreza menstrual.

Muitas vezes, materiais inadequados como folhas de jornal, papel higiênico, miolo de pão e tecidos são utilizados para conter o fluxo, o que pode acarretar riscos à saúde. Outro fator que afeta diretamente a higiene menstrual, é a falta de saneamento básico. No Brasil, mais de 100 milhões de pessoas não têm acesso a este serviço, segundo dados do Trata Brasil (2018).

As integrantes do “Nós Mulheres” conseguiram o apoio da advogada e apresentadora Gabriela Prioli, da atriz e ativista Camila Pitanga, da marca de calcinhas absorventes “Pantys” e ganhou destaque em uma edição do Programa Altas Horas (Foto: Acervo Pessoal) 

Uma vez que o Estado não é capaz de suprir tais demandas, ONGs e projetos sociais se mobilizam para dar o suporte necessário. O projeto “Nós Mulheres”, idealizado por Juliana Garcia, que visa arrecadar absorventes e produtos de higiene básica para mulheres encarceradas do Estado de São Paulo, é um exemplo de ação social capaz de transformar a realidade de grupos vulneráveis. 

Juliana é advogada criminalista e revela que a profissão lhe permitiu conhecer a realidade extremamente precária dos presídios femininos brasileiros. Ao se dar conta de que as detentas não possuíam acesso à higiene básica, resolveu tomar iniciativa, dando início ao “Nós Mulheres”. Atualmente o projeto é composto por oito mulheres que desempenham funções distintas.

Atualmente o “Nós Mulheres” arrecada contribuições por meio de vaquinhas online. (Foto: Acervo Pessoal) 

O projeto já arrecadou mais de 100.000 absorventes, desde a criação em 2018, sendo, 35.528 unidades somente em 2020. Através de doações via vaquinhas online e pontos de coletas presenciais, o “Nós Mulheres” se fez presente em mais de oito penitenciárias femininas.

As principais reivindicações da luta contra a pobreza menstrual contemplam garantir o acesso à produtos de higiene básica para todos os corpos que menstruam. Além da diminuição da tributação em cima do preço dos absorventes. Outra solução seria a distribuição gratuita de absorventes higiênicos em escolas públicas, tal iniciativa já tramita nas Assembléias Legislativas de todo o país.

Juliana Garcia explica a importância de iniciativas sociais de combate a pobreza menstrual

No entanto, Juliana Garcia, acredita que somente a distribuição de materiais higiênicos não seja suficiente. A idealizadora do “Nós Mulheres” defende a educação menstrual. Pois o conhecimento instrui acerca do funcionamento do próprio corpo, desenvolve a autoconfiança e incentiva uma vida mais confortável e consciente. “É preciso que haja informações qualificadas sobre o tema, para que deixe de ser um tabu e cada vez mais meninas e mulheres possam se informar e aprender sobre menstruação”, comenta Juliana.

As integrantes do “Tô de Chico” se organizaram como projeto a partir de uma conversa casual sobre privilégios. (Foto: Acervo Pessoal)

O projeto “Tô de Chico”, idealizado em 2018, pelas jovens Carolina Chiarello e Talita Soares, também realiza doações de produtos de higiene menstrual para pessoas em situação de rua no Rio de Janeiro e Niterói. Atualmente, Bruna Bôa e Cecília Cruz integram o grupo, auxiliando nas redes sociais e na coordenação do projeto.

Talita Soares revela como surgiu o projeto “Tô de Chico”

Logo após as primeiras doações, elas se deram conta de que algumas pessoas não possuíam roupa íntima. A partir do momento em que o grupo percebeu uma nova demanda, iniciaram a arrecadação e lançaram um diferencial. “Criamos o ‘Kit Tô de Chico’, que é composto por dez absorventes normais, cinco noturnos e duas calcinhas. Além de sabonetes, álcool em gel e máscara”, conta a co-fundadora do projeto, Talita Soares.

Com a chegada da pandemia, a situação se agravou tanto para pessoas em situação de vulnerabilidade, quanto para quem realizava as doações. Antes, o recolhimento das doações acontecia quase diariamente. E devido às medidas restritivas, as jovens precisaram escolher apenas um dia da semana para coletar pessoalmente os produtos de higiene pessoal, a fim de evitar maiores exposições.

Contudo, mesmo em meio à crise sanitária provocada pelo coronavírus, o grupo continua a distribuir os produtos de higiene básica nas ruas com todos os cuidados necessários. E parte das doações também são destinadas a organizações parceiras, como: “Rocinha Resiste” e o “Consultório na Rua” – Projeto do SUS que dá assistência à população de rua.

Ouça o que Talita tem a dizer sobre essas iniciativas

É preciso um olhar mais atento para a pobreza menstrual. É um assunto sério e precisa ser tratado como questão de saúde pública. É um dever da sociedade exigir dos governantes, políticas públicas de combate a esta mazela social. Além de incentivar, divulgar e doar para organizações que transformam vidas, dignificam e promovem autonomia.

Gabrielle Lopes – 7° Período

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