Em meio a uma crise no setor empregatício, a contratação de transexuais e travestis aumenta

Crédito: CONJUR
Devido à escassez de emprego no mercado de trabalho formal, cerca de 90% da população de transexuais e travestis tem a prostituição como fonte de renda, segundo um levantamento da Articulação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). No entanto, muitas empresas observaram os benefícios da diversificação no ambiente de trabalho e passaram a apostar na mudança.
As ativistas Márcia Rocha (Advogada), Letícia Lanz (Psicanalista), Maitê Schneider (Consultora de Inclusão e Diversidade) e Laerte Coutinho (Cartunista) lançaram em 2013 uma plataforma de recrutamento, que visava facilitar a colocação de pessoas trans (travestis e transexuais) no mercado de trabalho. A TransEmpregos, como é chamada, possibilita que as empresas enxerguem esses profissionais que na maioria das vezes não são contratados por conta do preconceito.
No ano de 2020 houve um crescimento de 315% no número de cadastros, de acordo com dados da própria plataforma. Das 1.419 vagas abertas, 799 foram preenchidas. Mesmo diante de uma pandemia, medidas restritivas e isolamento social a TransEmpregos conseguiu emplacar um recorde de contratações, em meio à onda de desemprego provocada pela crise sanitária.
Assista ao vídeo de Márcia sobre o recorde de contratações em meio a pandemia.
A idealizadora da plataforma TransEmpregos e ativista pelos direitos humanos, Márcia Rocha, conta que muitos profissionais transexuais são extremamente qualificados, mas quando decidem assumir a identidade de gênero com a qual se identificam, perdem o emprego e não conseguem uma recolocação no mercado.

Crédito: Arquivo Pessoal
Os esforços de algumas empresas para promover inclusão ajudam a ampliar a presença de transexuais e travestis no mercado de trabalho formal. O recepcionista Geovanni Miguel faz parte desta parcela de profissionais trans que conseguiram uma colocação no mercado em meio a crise sanitária da Covid-19. “Me indicaram o site da TransEmpregos e sem muita fé me candidatei para uma vaga na CVC. Na mesma noite recebi uma mensagem me convidando para participar do processo seletivo e posteriormente fui convocado”, relata.
Geovanni deixa um recado para as pessoas trans que estão em busca da aceitação
“A maior das dificuldades é a falta de oportunidade e o desrespeito. Diariamente sou tratado no feminino em vários lugares, mesmo após reafirmar quem sou. É algo que tem a ver com a sociedade“
Geovanni Miguel

Crédito: Arquivo Pessoal
A desenvolvedora de softwares, Amélia Guerreiro, é mais um exemplo dentro do montante de 799 profissionais trans contratados em meio a pandemia através da plataforma. Ela foi selecionada para fazer parte da equipe de desenvolvimento do Letras.Mus e conta que a empresa superou todas as expectativas. “Está sendo totalmente incrível. Eles me respeitam ao máximo, sempre me perguntam se eu estou bem ou confortável. Me acolheram com todo o carinho”, conta Amélia.
“Lá (no Letras) a diversidade é de fato valorizada e deveria ser um exemplo a seguir para todas as outras empresas”
Amélia Guerreiro
Amélia aconselha pessoas trans que estão desanimadas na busca por uma oportunidade a não desistirem. E afirma que a TransEmpregos tornou o processo muito mais confortável. “Fiquei muito feliz de fazer parte do processo já que sabia que a vaga era amigável para mim e que a empresa não tem qualquer tipo de problema com você sendo trans, muito pelo contrário.”
Ouça o áudio no qual Amélia encoraja pessoas trans a buscarem uma qualificação
Iniciativas que parecem simples podem transformar o mercado de trabalho. Muitas empresas brasileiras, inspiradas no modelo de trabalho das multinacionais, passaram a investir na diversificação do ambiente e na promoção de processos seletivos voltados exclusivamente para minorias sociais. “As multinacionais lidam diariamente com a diversidade pois possuem funcionários do mundo inteiro e de culturas distintas. Eles perceberam que o preconceito era um empecilho”, relata Márcia Rocha, idealizadora da plataforma.
“Quanto mais diversas as empresas são, mais produtivas ficam. Os funcionários trabalham melhor, resolvem os problemas com mais criatividade e propõem ideias diferentes”
Márcia Rocha
Ser LGBTQIA+ no Brasil ainda é sinônimo de muita luta por direitos básicos. Apesar das dificuldades, Geovanni Miguel e Amélia Guerreiro são exemplos de que iniciativas transformadoras fazem a diferença e agregam para uma perspectiva de futuro melhor, na busca por igualdade.
Gabrielle Lopes – 7º período