Ambiente que o trabalho é realizado e relação familiar contribuem para o desgaste emocional
O home office tornou-se permanente para boa parte dos trabalhadores na pandemia. Além das inovações tecnológicas e possiblidade de continuar os afazeres, ele trouxe efeitos colaterais que interviram na rotina profissional, sendo um deles, o estresse. Fora a preocupação com a crise sanitária, a transição do presencial ao on-line teve que conciliar a mudança do cotidiano domiciliar a partir do isolamento social, o que acabou exigindo um equilíbrio mental dos empregados.
No Brasil, o estresse é um dos responsáveis por mais de 130 milhões de infartos de acordo com o Ministério da Saúde. O trabalho influencia nessa estatística, tendo em vista que o acúmulo do cansaço, desconforto mental e frustração profissional corrobora para tal cenário. Embora o home office aparente ser menos cansativo devido à ausência da mobilidade urbana, para Ondina Maria Alves, professora da graduação de Psicologia da UVA, trabalhar em casa pode acarretar uma série de problemas se a preparação for incorreta. “Caso não tenha um ambiente adequado para trabalhar, isso pode se agregar a uma situação de estresse. Uma pessoa estressada produz menos, dorme mal, começa a ter problemas digestivos”, afirma.
Ciente da necessidade de planejamento, a advogada Ana Vasconcellos procurou arrumar um local para trabalho no intuito de evitar momentos de desgaste. Ela tem seu próprio escritório isolado da relação familiar, justamente para não ter nenhuma interferência quando estiver concentrada no trabalho. Como consegue ficar afastada durante os compromissos, ela sente-se mais à vontade no home office à medida que vê sua família com maior frequência. “Prefiro o modelo virtual, já que fico mais feliz e relaxada por causa da ausência de deslocamento e consigo aproveitar mais minha família”, comenta.
O fotógrafo comercial Lucas de Oliveira trabalha em home office há 7 anos e, na pandemia, buscou receber o material de fotografia via domicílio para não ter contato com outras pessoas. Apesar de já estar adaptado ao virtual, a carência do refúgio mental o deixou irritado a ponto de se desentender com clientes ao longo da quarentena. “Já larguei cliente que demorava a entregar o material a ponto de ultrapassar minha carga horária. Acabei buscando ajuda profissional e de amigos sobre o equilíbrio mental. Tem a ver com a falta de sair para relaxar e confraternizar com amigos”, diz.
As restrições sociais impostas pelo novo coronavírus também afetaram a saúde mental da jornalista Luciana Bastos enquanto fazia a atividade profissional em casa. “Não fiquei estressada com o home office em si, mas com a pandemia e tudo que ela envolve. Esse pânico de pegar a doença e não ter segurança ao sair foram me deixando abalada psicologicamente no trabalho”, declara. Ela, inclusive, contraiu a doença junto à filha, irmã e padrasto. Ondina fala que é vital o diálogo e a disciplina no confinamento social, senão, a irritabilidade, por trabalhar demais e dormir pouco, prejudica o desempenho profissional.
Por ser mãe, Luciana necessitou ajustar a profissão com a escola da filha, sendo os primeiros 4 meses de isolamento um choque de realidade. “Mesmo trabalhando, não queria deixar de dar atenção a minha filha. Era bem complicado conciliar as reuniões remotas com a escola. Tive sorte que ela pôde brincar com a vizinha pela varanda”, lembra. Segundo Ondina, o relacionamento parental é peça-chave na prevenção do desequilíbrio mental durante o home office. “Para evitar o estresse no home office, é preciso organização, estrutura e procurar uma rotina que todos ao redor possam cumprir. Uma mãe, por exemplo, que não tem controle do(a) filho(a) vai viver eternamente estressada”, garante.
Lucas Ribeiro – 4° período