A Pandemia de Covid-19 expôs as dificuldades dessas pessoas e trouxe novos desafios
Ouça o podcast da Rádio UVA Barra sobre o tema do efeito do isolamento social na vida de pessoas trans:
A pandemia do novo coronavírus colocou boa parte do mundo em quarentena. Escolas, restaurantes, centros comerciais e tantos outros espaços de uso coletivo foram fechados. As pessoas passaram a se isolar em suas casas. Entretanto, alguns grupos já vivenciavam o isolamento antes mesmo da pandemia, entre eles, a comunidade LGBTQIA+. Dentre as necessidades de cada letra da sigla, as pessoas trans, representadas pela letra T, vivenciam o isolamento de outras formas muito antes do novo normal ser pauta dos noticiários.

A expectativa de vida de uma pessoa trans é de 35 anos. Em contrapartida, o brasileiro médio vive até os 75 anos. Existir sendo uma pessoa trans é, portanto, viver de olho no relógio e em contagem regressiva. No contexto da pandemia, a vida cotidiana ganha novas formas: Brenda Safra, 18 anos, precisou repensar a vida. Ela perdeu o emprego e teve que pausar a terapia hormonal. “Eu perdi o meu emprego sem aviso prévio. Eu fiquei três dias sem meus hormônios que são de uso diário. Eu tive que pedir dinheiro emprestado”, explica Brenda.
A terapia hormonal que Brenda se refere é um processo responsável por provocar alterações para adequar o corpo à identidade. No entanto, a terapia hormonal não é regra. Cada pessoa pode optar por realizar ou não, de acordo com as necessidades individuais. Lohan Barcellos é graduado em psicologia e dedica seus estudos a atendimento para a população LGBTQIA+. Para ele, interromper o tratamento hormonal pode afetar não só a saúde física, mas também a mental. “É complexo porque a terapia hormonal envolve mais do que uma questão psicossocial, é também uma questão orgânica e biológica”, ressalta Lohan.
Entretanto, a saúde mental de pessoas trans pode ser afetada por outros fatores. Para Caio Oliver, 18 anos, a convivência em casa nunca foi prazerosa e pandemia não trouxe melhoras nesse contexto. Ele, que já tinha morado fora da casa dos pais, teve que voltar pouco antes da quarentena. A família de Caio não o aceita, o que torna a convivência difícil. “Eu nunca tive uma boa relação com meus pais. Foi isso que o isolamento me ferrou. Eu nunca fiquei em tanto contato com eles”, Caio desabafa.
Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, de 2013, Jovens LGBTQIA+ estão mais vulneráveis: 28% dos entrevistados já conviviam com a depressão antes da pandemia, o número é quatro vezes maior que dos brasileiros em geral. “O isolamento social pode potencializar quadros depressivos e ansiosos e de ideação suicida que pessoas LGBTQIA+ já apresentavam antes do contexto de pandemia”, explica Lohan Leite Barcelos.

É preciso ressaltar que a identidade de gênero não resume essas existências: nem da Brenda, nem do Caio, nem de outras pessoas que fazem parte dessa comunidade plural e complexa. Brenda desenha, atua, escreve e
tem a pretensão de ser professora, Caio tem o objetivo de retornar à faculdade e seguir a carreira de pesquisador na saúde trans no campo da biomedicina. Desejos esses que não foram parados pelo relógio da vida.
Rafaela Barbosa – 7º Período | Jornalismo Júnior Almeida – 6º Período | Jornalismo