
Em 2016, Robert Eggers surgiu para o grande público com o longa “A Bruxa”. Na época, muitas pessoas parecem não ter entendido muito bem qual era a proposta do diretor, que apresentou uma obra que não usava os tradicionais sustos repentinos, com uma trilha sonora alta de fundo (os famosos “Jumpscare”). Ele se propunha a estabelecer um ambiente de terror mais voltado para o psicológico, usando desse gênero para debater questões mais profundas. Agora três anos depois, Eggers volta aos cinemas, mais uma vez, disposto a mexer com as estruturas de quem embarcar na experiência que é o seu novo filme “O Farol”.
A história se passa em 1890, na Nova Inglaterra, e mostra a jornada de dois homens, que são mandados para uma ilha distante para cuidar do funcionamento de um enorme Farol. Thomas Wake (Willem Dafoe) e Ephraim Winslow (Robert Pattinson) precisam passar duas semanas juntos, sem nenhuma comunicação com o mundo exterior, tendo apenas a companhia um do outro.

Logo de cara, em uma das primeiras cenas, é possível ouvir o barulho ensurdecedor de uma sirene que fica se repetindo durante alguns momentos da projeção, o que já demonstra o tom de incômodo que a obra vai carregar. A fotografia em preto e branco e a dimensão da tela, que se aproxima de um quadrado (muito usado durante o cinema mudo), são utilizados como recursos para dar um ar de claustrofobia. Parece que os ambientes são menores e que os personagens estão a todo momento enclausurados ou sem ter para onde fugir.

Além disso, os elementos fantásticos presentes dão um toque de fábula para o roteiro. Paralelos entre “O Farol” e obras de autores, como H.P. Lovecraft, em “O chamado de Cthulhu” podem ser facilmente feitas. Em ambas as obras há essa sensação de incerteza constante, de não saber se tudo aquilo é real ou não, mantendo o espectador instigado e engajado em querer entender quais rumos a história vai tomar.
As atuações da dupla de protagonistas são um dos pontos altos da trama. Os dois conseguem entregar no começo dois personagens bem introspectivos, que se tratam com certa desconfiança. Dafoe assume o papel de velho rabugento e resmungão, enquanto Pattinson faz, a princípio, um jovem meio desconfiado e desconfortável com o trabalho. A escala de atuação dos dois é surreal, eles conseguem entregar o ápice da loucura, intercalando com trechos de tensão, companheirismo e até de sentimentalismo. O diretor acompanha o desempenho de atuação dos dois através de planos sequência, planos longos e cenas que deixam eles mais livres para entregar os diálogos, sem muitos cortes, trazendo um tom teatral para o filme.

Robert Eggers, convida o espectador a embarcar em uma espiral de loucura/insanidade ao mesmo tempo que debate temas, como a masculinidade, os efeitos do isolamento e sexualidade, por meio de alegorias. Tudo que é apresentado tem o objetivo de tentar provocar quem assiste, desde uma crescente paranóia em relação ao que está acontecendo até momentos escatológicos de revirar o estômago. Esse trechos são colocados de forma precisa para provocar e instigar.
O diretor, utiliza todos os elementos possíveis para deixar o espectador na posição menos confortável. “O Farol” não é uma obra fácil de assistir, porém consegue ser uma das melhores experiências cinematográficas lançadas nos últimos tempos, assim como “A Bruxa”, mas será que o público vai entender a visão de Eggers dessa vez? Só o tempo dirá. O longa estreia em 2 de janeiro de 2020.
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Lucas Souza – 2º Periodo | Jornalismo