
O terceiro filme da boneca amaldiçoada, spin-off de “Invocação do Mal”, conta com roteiro de James Wan e Gary Dauberman e cumpre seu papel de maneira mais equilibrada que o antecessor (Annabelle 2: A Criação do Mal), mas não alcança o patamar cinematográfico do universo original.
A estrutura narrativa de Annabelle 3, bem como em vários dos filmes de terror, é simples e repleta de decisões inverossímeis. Os acontecimentos só se tornam possíveis graças à “Daniela Rios” (Katie Sarife), amiga de “Mary Ellen” (Madison Iseman), babá que toma conta de “Judy Warren” (Mckenna Grace), filha pequena do casal de paranormais “Ed Warren” (Patrick Wilson) e “Lorraine Warren” (Vera Farmiga). Inicialmente apresentada como uma jovem curiosa e impertinente, Daniela libera todo o mal pela casa quando descumpre as regras e entra no museu dos Warren, local onde todos os objetos que servem de conduítes para demônios estão armazenados, inclusive a famigerada boneca Annabelle.
O filme arrisca uma certa dose de alívio cômico, inclusive nos momentos mais tensos, personificado no personagem “Bob das Bolas”, paixonite de “Mary Ellen” e consegue sinceras risadas do espectador. A subtrama por trás de “Judy Warren” é desnecessária e não faz nenhuma diferença para a construção da narrativa, mas garante um sentimento de leveza e anestesia ao final de um terceiro ato acelerado.
Há pelo menos duas décadas, os filmes de terror hollywoodianos investem em “jump scares” (os famosos sustos repentinos que nos fazem pular da cadeira) e um acerto de Annabelle 3 é usar tal artifício com moderação. Em vários momentos, o diretor estreante de 35 anos “Gary Dauberman” parece brincar com a certeza do espectador ao susto iminente com enquadramentos claustrofóbicos e suspensão constante da trilha sonora para que nada anormal (ou paranormal) aconteça, conduzindo as cenas com uma incômoda presença de uma atmosfera tensa.
A fotografia de “Michael Burgess” é primordialmente escura e dessaturada numa ambientação que contempla uma constante presença de névoa e sensação de temperaturas frias, no que parece ser uma tentativa válida de isolar as personagens na adversidade de coexistir com a presença do mal constante. Os movimentos da câmera em seu próprio eixo funcionam como ferramenta básica no quebra-cabeça de sustos e, mesmo que não seja inovador como técnica cinematográfica, se completa muito bem com cortes invisíveis, numa constante brincadeira de esconde-esconde com os demônios.
Apesar dos demônios com estética carnavalesca e seus movimentos pouco fluidos e propositalmente acelerados, o ponto chave para o equilíbrio final alcançado pelo filme é a boa utilização da fórmula mágica dos filmes de terror. Não é nenhum produto inovador, mas é bem dosado e trata-se de um entretenimento divertido para o seu público.
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Kadu Zargalio – 3º Período | Produção Audiovisual