Responsáveis por série com produção considerada excelente nos EUA falam sobre motivações, desafios e experiência em segundo dia de evento
Em palestra sobre inovação e criatividade, o RIO2C trouxe como convidados Charlie Brooker e Annabel Jones – os produtores executivos de uma das séries mais comentadas e impactantes dos últimos tempos: Black Mirror. Conhecida por trabalhar seu enredo em cima de uma sociedade modificada e dominada por inovações e avanços tecnológicos, a criação da série e seu desenvolvimento passaram por processos criativos considerados intensos, atraindo a atenção de profissionais e interessados na indústria de produção.
A conversa com os produtores abordou qual era a principal característica criativa durante o processo de elaboração do roteiro e o motivo do sucesso da série. “A chave de Black Mirror é que nós não nos levamos muito a sério”, afirmou Annabel. “É um humor negro e é muitas vezes um exagero cômico de um acontecimento. Não estamos tentando passar uma mensagem. Não estamos tentando ser sinceros. Não temos as respostas. Estamos apenas tentando levantar questionamentos e fazer as pessoas pensarem sobre certas coisas que nós estamos pensando”, concluiu.
Um dos pontos mais importantes e desafiadores na história do processo criativo de Black Mirror foi o filme originado da série. Black Mirror: Bandersnatch foi o primeiro projeto de storytelling interativo e a dupla comentou sobre como a ideia veio a partir de uma sugestão da Netflix, a experiência e as principais preocupações com relação ao novo modelo de produção. “Foi doloroso!”, brincou Annabel.
Brincadeiras à parte, Charlie comentou sobre os cuidados que precisaram tomar. “Geralmente, quando pensamos na storyline de um episódio normal de Black Mirror, nós tentamos simplificar a história, decidindo o que deixar de fora”, disse. “Com isso (Bandersnatch), cada vez que eu adicionava outra ideia, era como adicionar outro cômodo em uma casa que eu teria que decorar”, completou o produtor. “Nós percebemos que se você é muito liberal e suas escolhas acrescentam demais, você, na verdade, vai terminar com algo que não é coeso”, explicou Annabel. Para Charlie, no final, a experiência foi difícil, mas animadora. “Tão libertadora quanto confusa”, afirmou.
Sobre a dinâmica do trabalho em dupla, Annabel afirma que eles se conhecem há muito tempo, então já entendem um ao outro. “Nos conhecemos há 20 anos e isso significa que podemos ser honestos um com o outro. Nós conversamos abertamente sobre as coisas”, esclareceu a produtora. “Temos um relacionamento muito saudável, onde discutimos um com o outro sobre interpretações de criatividade”, completou Jones.
“A chave de Black Mirror é que nós não nos levamos muito a sério”
Por último a dupla apresentou um novo projeto brasileiro – ideia de uma série que mescla reality show e apocalipse zumbi idealizada por eles há alguns anos – que contará com a participação de Sabrina Sato no elenco.
Julia Morais – 7º Período | Jornalismo