“O corpo da mulher negra não está apenas em uma notícia policial, a gente pode estar ali também levando cultura, informação. Devemos estar em todos os lugares, inclusive no jornalismo.” A fala da jornalista da Globo, Francini Augusto, expressa a urgência de mais representatividade de mulheres negras no meio jornalístico brasileiro.

Historicamente, as mulheres têm sido subjugadas, tornando-se alvo de práticas machistas e sexistas, especialmente no mercado de trabalho. Quando se trata das mulheres negras, esse cenário se agrava. De acordo uma pesquisa da plataforma de empregos Infojobs, 58,8% das mulheres pretas dizem ter sofrido preconceito em outras situações no mercado de trabalho.As diferenças salariais também são evidentes,enquanto um homem branco recebe, em média, R$ 8.849,00, uma mulher preta ganha menos da metade desse valor ,R$ 3.964,00, segundo a Infojobs. Essa realidade é resultado de um legado estrutural de preconceito e racismo, que não se limita ao ambiente profissional, mas se estende também ao meio acadêmico e estudantil.

De acordo com a psicóloga e psicopedagoga, Dandara Cristina de Souza, a maioria dos problemas relacionados à saúde mental das mulheres pretas no mercado de trabalho  é derivado de preconceitos e racismo estrutural que tiveram início na escola. ”Desde pequena, na educação infantil, é observado  nas escolas a partir do bullying que , meninas que mais aparecem,são as brancas”, conta. A afirmativa da profissional revela que há opressão e oportunidades desiguais para mulheres pretas começam na infância e se estende também para o ambiente universitário. 

“Há um peso, é uma responsabilidade muito grande representar todos que não tiveram a oportunidade de estar onde estou, chegar onde cheguei, representar os que não estão mais aqui, que se perderam no caminho, que por seus motivos seja lá quais foram”, conta a estudante de jornalismo do 4° período da UVA,campus Barra Maria Eduarda de Souza. A fala da aluna aponta que são muitas as conquistas alcançadas pelo povo  negro , especialmente pelas mulheres que estão ganhando cada  vez  mais destaque. 

Porém, no ambiente jornalístico ainda existem alguns empecilhos que limitam o poder das mulheres pretas alcançarem determinados patamares. “Estamos presentes, ainda bem , estamos crescendo, mas ainda existe essa questão do colorismo mesmo , eu vejo mais mulheres negras  mas ainda com o tom de pele claro , não mais  mulheres retintas e eu gostaria de ver”, disse Francine Augusto. Esta fala demonstra que  há questões a serem resolvidas,como  por exemplo a presença de mais mulheres pretas retintas na apresentação de um programa ou em um lugar de protagonismo dentro do jornalismo. A pesquisa Panorama Mulheres 2023 aponta que mulheres negras, apesar de serem maioria nas redações (cerca de 58% das mulheres no jornalismo), ocupam apenas cerca de 17% dos cargos de liderança. Os dados ratificam ainda mais a fala da jornalista que deixa claro a forma que o meio não é acessível para todas,sendo seletivo na escolha de funcionárias em local de protagonismo, uma forma de racismo velado. 

Por conta desta seletividade presente nesse ambiente, quando uma mulher preta consegue alcançar determinado espaço, ela enfrenta o chamado ‘duplo esforço’, a necessidade de provar constantemente que é tão ou mais capaz do que as demais mulheres no espaço de trabalho.“Por todo um contexto histórico que vemos aqui no Brasil , é observado que existe uma hierarquia, primeiro homens brancos,  mulheres brancas,  homens negros e por último mulheres negras.Então eu sinto que as mulheres negras precisam sempre se provar e se esforçar muito mais para que a gente consiga atingir um papel de destaque.E não é limitado só as empresas e sim a sociedade no geral”, disse a jornalista do SBT, Isabella Tostes.

Contudo, mesmo com alguns empecilhos presentes no meio jornalístico existe a parte positiva. Com a presença de mais mulheres pretas em lugar de protagonismo é possível notar que o público se identifica mais com quem está falando e retém melhor a informação. “Quando a gente fala sobre casos de racismo , ou representatividade é diferente quando a gente tem uma pessoa negra falando do assunto porque é sentido na pele  a emoção a forma de tratar a pauta é diferente”, disse Isabella.

No fim, o que está em jogo é mais do que representatividade,é a possibilidade de transformar o jornalismo em um espaço verdadeiramente democrático, onde diferentes vozes tenham não só lugar, mas também poder de narrar suas próprias histórias. Nesse cenário, a presença de mulheres pretas no mercado jornalístico é fundamental, pois rompe barreiras históricas, amplia a diversidade de olhares e garante que pautas essenciais sejam tratadas com a legitimidade de quem vive essas experiências na própria pele.

Madu Zamba – 2º Período

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