Entre montanhas, café e esforço físico, o ecoturismo ganha espaço no Rio e revela a importância do preparo, da orientação e do vínculo entre guias e trilheiros.
Com suas montanhas imponentes e rica biodiversidade, o estado do Rio de Janeiro se consolida como um destino promissor para o ecoturismo. Inserido no bioma da Mata Atlântica, o território fluminense abriga picos como o das Agulhas Negras, em Itatiaia, que chega a 2.791 metros de altitude, segundo o Projeto Flora da UFRJ. A combinação de natureza exuberante e trilhas desafiadoras tem atraído aventureiros em busca de experiências físicas, mentais e sensoriais.
Mas encarar esses caminhos exige mais do que disposição: conhecer o percurso, contar com profissionais experientes e cuidar da alimentação são fatores que fazem toda a diferença — antes, durante e depois da jornada.
Na cidade serrana de Teresópolis, o guia de turismo e barista Rogério Barros Jr. criou o projeto Vibe Nativa, ativo desde 2023. A iniciativa une suas duas paixões: o montanhismo e o café. Com mais de uma década de vivência em esportes como ciclismo, corrida de trilha e trekking, Rogério hoje organiza roteiros intermunicipais de diferentes níveis de dificuldade, sempre com um toque especial.
Durante as pausas nas trilhas, ele prepara café orgânico coado na hora, servido no alto das montanhas. “Um café bem preparado não é só saboroso, ele potencializa o corpo e a mente para encarar qualquer tipo de aventura — seja pedalando, caminhando ou apenas curtindo a paisagem”, conta.
Ao lado de Rogério, o guia Marcelo Pereira reforça a importância da relação de confiança entre condutor e visitante. “Quando essa conexão é bem construída, a trilha deixa de ser só um desafio físico e vira uma experiência transformadora”, destaca.
Marcelo também lembra que as trilhas exigem planejamento e preparo: “É essencial checar os equipamentos, fazer um briefing com o grupo, ter rotas alternativas e saber identificar sinais de cansaço ou medo. Além disso, é preciso respeitar o ambiente e estar pronto para lidar com imprevistos.”
Outro cuidado essencial, segundo Rogério, está na alimentação. Quando os pacotes incluem refeições, ele faz questão de orientar os participantes. “A gente prepara refeições balanceadas, com os nutrientes certos para manter a energia e o bem-estar. Comer bem é essencial para aproveitar cada momento da trilha, seja no café da manhã na montanha ou no jantar ao final do dia.”
O fotógrafo Lucas Terra cresceu ouvindo histórias do pai, um entusiasta das trilhas. Ele conta que sua primeira aventura, ainda aos oito anos, foi na trilha da Pedra da Urca — uma experiência difícil para uma criança sedentária. Mas o maior desafio veio na adolescência, ao tentar subir a Pedra da Gávea. “Cheguei na metade da subida esgotado. Minha mãe até desistiu antes de mim! Esperamos meu pai subir e descer. Voltei pra casa moído, mas aquilo ficou na memória.”
Mesmo com as dificuldades, Lucas se apaixonou pelas trilhas, mas nem sempre contou com o acompanhamento ideal. Em uma ocasião, decidiu explorar uma rota pouco conhecida sem guia e acabou se perdendo. “A gente entrou numa trilha fechada, andou horas, e o caminho simplesmente não levava a lugar nenhum. Quando escureceu e a bateria do celular começou a acabar, tivemos que chamar os bombeiros. Até eles tiveram dificuldade pra nos achar. Foi tenso, mas virou história de rodízio de esfiha no final”, brinca.
Hoje, mais experiente, Lucas reconhece a importância do planejamento e da orientação especializada, especialmente em trilhas desconhecidas ou mais difíceis. “Fazer trilhas é incrível, pois desconecta a pessoa da correria, faz suar, conhecer gente nova. Mas tem que ter noção. Se o caminho é puxado, vá com alguém que conheça. E leve bons equipamentos. Segurança também faz parte da aventura”.
Márcio Weber – 7º período









Deixe um comentário