A Contadora de Filmes é uma obra envolvente e delicada que mistura a magia do cinema com os desafios de uma família simples no deserto do Atacama. O diretor nos guia pela jornada de María Margarita, uma jovem dotada de um talento extraordinário para contar histórias, que se torna uma figura central em sua comunidade e na sobrevivência emocional de sua própria família.

A narrativa começa na infância de María Margarita, a caçula de quatro irmãos, em um vilarejo isolado próximo às minas de salitre. Apesar da dura rotina diária, os domingos eram especiais: o dia em que toda a família ia ao cinema. É nesse cenário que a jovem descobre seu dom de reviver os filmes para aqueles que não podiam assisti-los. A habilidade logo transforma sua vida e a de sua família, trazendo alívio em tempos difíceis.

O filme se destaca pela profundidade com que aborda temas universais, como as relações familiares, a perda e os impactos de um contexto político turbulento. O acidente de seu pai, Medardo, é um dos momentos mais marcantes, afetando profundamente a protagonista e a dinâmica familiar. Outro ponto forte é a complexidade emocional em torno de sua mãe, María Magnólia, que abandona a família para perseguir o sonho de ser atriz, deixando em sua filha um misto de mágoa e saudade.

Enquanto María Margarita amadurece, ela enfrenta desafios que vão além da pobreza e do abandono. Um episódio de assédio envolvendo o agiota do local Nolasco e a vingança de seu irmão Mariano trazem tons mais sombrios à história. Ainda assim, a protagonista encontra forças em seu talento para contar histórias, transformando o cinema em um refúgio e em uma maneira de lidar com suas próprias dores.

A cinematografia é um dos pontos altos do filme, misturando habilmente realidade e ficção. As paisagens áridas do deserto do Atacama contrastam com o mundo vibrante que María Margarita recria em suas narrações, refletindo o papel do cinema como um escape emocional. Uma das cenas mais impactantes é quando ela afirma ter contado a “película mais difícil” ao enterrar sua mãe no momento em que vai reencontrá-lá no Teatro Ideal e se depara com a realidade. 

O pano de fundo histórico do filme se passa no governo de Salvador Allende e do golpe militar de 11 de setembro de 1973 confere um tom político à trama. Nesse cenário de mudanças sociais e repressão, a amizade entre María Margarita e Maurício, o filho de um sindicalista, é um contraponto de resistência e afeto. No entanto, escolhas difíceis, como seu relacionamento com o gerente Hauster, mostram as ambiguidades de sua jornada.

Ao final, A Contadora de Filmes é um relato sensível sobre como a arte, especialmente o cinema, pode oferecer refúgio e esperança em tempos difíceis. María Margarita não apenas narra filmes, mas dá novos significados às histórias, ajudando sua comunidade e a si mesma a enfrentar as adversidades. O filme termina com a María mudando-se para a cidade junto com sua filha e por fim fazendo um tour em seu antigo povoado que tornou-se apenas história. 

Com atuações marcantes, imagens poéticas e uma trama envolvente, o filme emociona e nos faz refletir sobre o poder transformador das histórias, reais ou fictícias. Na minha visão é  uma obra que celebra a resiliência humana e a capacidade de sonhar, mesmo em meio ao deserto mais árido.

Ana Luiza Duarte – 4° Período

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