O comércio se prepara para grandes descontos, mas pequenos negócios enfrentam desafios, enquanto consumidores se mostram mais atentos a ofertas reais.
A Black Friday, tradicionalmente celebrada nos Estados Unidos após o Dia de Ação de Graças, consolidou-se como um evento de grande impacto no comércio brasileiro desde a chegada em 2010. Neste ano, o evento, que ocorre no dia 29 de novembro, promete movimentar cerca de R$1,32 bilhão apenas na região metropolitana do estado do Rio de Janeiro, segundo pesquisa do Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises do Rio de Janeiro (IFec RJ). O impacto da Black Friday vai além do aumento das vendas, afetando diretamente a economia local e gerando efeitos que refletem ao longo do ano.
Diversos segmentos do comércio se preparam com estratégias focadas na maximização das vendas, desde o aumento de estoques e contratações até ações de marketing digital. Para enfrentar a alta demanda, muitas lojas, como a Magazine Luiza, reforçam as equipes com contratações temporárias e intermitentes. Monique de Moraes, gestora da unidade da loja em Vilar dos Teles, São João de Meriti, explicou que realizou contratações de funcionários intermitentes, que trabalham apenas quando a empresa solicita, para atender ao aumento de demanda durante a Black Friday. Além disso, ela destacou que, para produtos selecionados, os descontos praticados nesta Black Friday podem chegar a até 80%. Monique também enfatizou que, ao contrário do que muitos pensam, os descontos são reais, rejeitando a prática comum de inflar os preços semanas antes da promoção para simular ofertas. “Contratamos mais intermitentes para poder dar mais atendimento ao público, porque muitas das vezes a quantidade de vendedores não dão conta da quantidade de clientes que entram na loja. E, com mais braços, conseguimos alcançar mais. Os descontos são reais de até 80% em produtos selecionados, para garantir uma Black Friday verdadeira.”

Enquanto grandes redes se preparam com uma oferta mais agressiva e infraestrutura robusta, pequenos negócios também se beneficiam da data, embora com desafios próprios. Wladimir Marques, proprietário das lojas Lar Doce Lar Móveis, compartilhou que, para este ano, a loja focou em produtos que ficaram encalhados ao longo do ano, oferecendo descontos de até 50% após realizar parceria com fabricantes que oferecem preços de custo. Ele também ressaltou que o foco no marketing digital é uma prioridade, afirmando fazer uso de plataformas de mídias sociais e até do Google para divulgar as ofertas de Black Friday. “A gente separou vários produtos que estavam guardados, fizemos reformas em várias cadeiras com o estofador e, com o nosso marceneiro, bolamos uma base de mesa. Vamos vender pela metade do preço. Também vamos fazer uma campanha pela internet, usando muito o Instagram e o Google para divulgar.”

Do outro lado, há comerciantes que, devido a vendas fracas nos meses anteriores, não têm grandes expectativas para este ano. Cátia Silva, vendedora da loja Pega Pega, que é uma loja de vestuário voltada para o público feminino no Calçadão de Duque de Caxias, revelou que a loja está apostando em poucas peças, com descontos significativos em produtos de alto valor, mas com um estoque limitado. Ela explicou que, devido ao cenário de vendas fracas em outubro e novembro, a expectativa para a Black Friday é baixa. “Esse ano, estamos um pouco despreparados porque o comércio está muito fraco. A gente está selecionando algumas peças para colocar na promoção, mas também não é muita coisa.”
Apesar de a loja Pega Pega não ter grandes expectativas para a Black Friday deste ano, Cátia Silva, vendedora da loja, explicou que aproveitaram o estoque de peças de roupas que não foram vendidas ao longo do ano para oferecer descontos mais atraentes aos clientes, com reduções de até 50%. No entanto, ela destacou que muitas dessas peças podem não estar disponíveis em todos os tamanhos. “Tem muitas peças que o valor era mais alto, aí teve tamanhos que sobraram entre as mercadorias, então a gente botou na Black com preços bem abaixo do custo. Era uma peça de valor alto, mas chegou pela metade do preço. Porém, não tínhamos todos os tamanhos, entende? Então conseguimos montar uma Black Friday interessante. Além disso, também aproveitamos peças que não venderam durante o ano para criar preços atrativos nesta Black Friday”.
João Vitor, vendedor da loja Americanas no calçadão de Duque de Caxias, explicou que, ao identificar um preço mais atraente em uma loja concorrente, ele entra em contato com o departamento de gestão de lojas ou com a gerente para negociar uma redução no valor do produto, visando aumentar as vendas. O objetivo, segundo ele, é que, caso um cliente chegue à loja com uma oferta de concorrência, seja possível ajustar o preço para igualá-lo ou torná-lo mais acessível. A estratégia, no entanto, não é aplicada diretamente durante a visita do cliente; a informação sobre o preço do concorrente é analisada posteriormente. “Por exemplo, estou com um produto aqui, fui à concorrência e vi que o preço está mais baixo. Aí, é vantajoso tentar entrar em contato com a minha DGL ou com a minha gerente, para que ela consiga falar com alguém que possa baixar o preço e a gente consiga vender mais. Ou seja, se o cliente chegar aqui com uma oferta de um concorrente, muitas vezes conseguimos cobrir esse preço. Isso não acontece na hora que o cliente chega, mas pegamos a informação e depois analisamos os preços em outras lojas, ajustando o nosso para ficar mais acessível ou igual ao da concorrência”.

Segundo Otto Guilherme Gerstemberger, coordenador do curso de Ciências Econômicas da Universidade Veiga de Almeida, a Black Friday tem um efeito indireto na economia local, gerando mais fluxo de clientes não só nas lojas, mas também beneficiando comércios adjacentes, como restaurantes e prestadores de serviços. “A Black Friday gera um aumento no fluxo de clientes e nas vendas, especialmente para pequenas empresas. Esse evento pode ajudar a liquidar estoques e proporcionar um impulso financeiro, que se reflete em investimentos em melhorias e contratações.”

No entanto, o cenário econômico atual apresenta desafios. Otto também destacou que, devido à inflação e às incertezas, os consumidores têm se tornado mais cautelosos. Ele afirma ainda que muitos podem preferir comprar apenas o essencial. Também alerta que a prática comum de aumentar os preços de produtos semanas antes da Black Friday é um dos fatores que pode deixar os clientes mais atentos às ofertas. “O cenário econômico atual pode levar os consumidores a serem mais cautelosos em suas compras. Muitos podem priorizar itens essenciais e buscar promoções que realmente agreguem valor. O aumento de preços antes da Black Friday, para apresentar descontos artificiais, pode fazer com que os consumidores fiquem mais atentos”, afirmou.
Apesar dos desafios impostos pelo cenário econômico, como o aumento da inflação e a cautela dos consumidores, a Black Friday segue sendo uma data estratégica para o varejo brasileiro. De acordo com o Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises do Rio de Janeiro (IFec RJ), na Região Metropolitana do estado, espera-se um gasto médio de R$ 1.295,53 por pessoa e uma movimentação financeira estimada de R$ 1,32 bilhão. A pesquisa também aponta os principais produtos que serão adquiridos neste ano, com destaque para eletrodomésticos (40,8%), eletrônicos, como videogames, smartphones, computadores e tablets (32,1%), além de itens de vestuário, calçados e acessórios (12,2%).
Adalberto Ribeiro – 6° Período





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