As redes sociais se tornaram uma parte essencial do cotidiano dos adolescentes. Contudo, o uso exagerado dessas plataformas pode acarretar impactos negativos tanto na saúde física quanto na psicológica dos jovens
Durante o Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio, a atenção volta-se para um fator crescente que afeta a saúde mental dos jovens: o uso excessivo das redes sociais. Um estudo realizado por Lima e Primo revela que, no Brasil, jovens de 18 a 24 anos desbloqueiam seus celulares, em média, 101 vezes por dia. Essa alta frequência de uso pode amplificar a exposição a conteúdos prejudiciais, intensificando transtornos como estresse, ansiedade e a constante comparação com padrões irreais, agravando problemas de saúde mental e contribuindo para o aumento de crises emocionais entre essa população.
À medida que as redes sociais se tornam predominantes na rotina dos adolescentes, aumenta a preocupação com seus impactos na saúde mental. O uso excessivo de redes sociais, jogos violentos e plataformas de streaming (tecnologia de transmissão de dados pela internet) está associado ao surgimento de sintomas como depressão, ansiedade severa, isolamento social e falta de sono. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o vício em jogos eletrônicos como um transtorno mental, destacando a gravidade do impacto da tecnologia na saúde dos jovens. Além disso, na adolescência, o excesso de tecnologia leva a pessoa a passar a maior parte do tempo interagindo no ambiente virtual, o que prejudica seu desenvolvimento e resulta na perda de experiências sociais essenciais.

Um dos principais problemas relacionados ao uso das redes sociais é a comparação constante a que os usuários estão submetidos. Ao visualizar as vidas aparentemente perfeitas de outras pessoas na internet, muitos adolescentes acabam se comparando com padrões irrealistas. Todavia, essa comparação pode levar a uma diminuição da autoestima e a sentimentos de inadequação, que podem contribuir para transtornos psíquicos. Com isso, as imagens e os posts sobre conquistas e estilos de vida glamorosos frequentemente não refletem a realidade completa, alimentando um ciclo de insatisfação e autocrítica comum entre os jovens.
O psicólogo Luan Jesus, 28 anos, explica quais são os principais sintomas que os jovens apresentam ao uso excessivo das redes. “Dentre os principais sintomas relacionados ao uso excessivo das redes sociais entre jovens, podemos destacar a ansiedade e a depressão. A internet, especialmente as redes sociais, possui um impacto muito grande na vida e na formação de identidade da população mais jovem. A ideação do estilo de vida perfeito, além dos padrões de beleza, acabam impactando negativamente a vida dos jovens, que acreditam que talvez essa seja a ‘única forma de ser feliz’. Além disso, a discriminação e preconceito que acontecem de forma descriminada nas redes sociais também possuem grande impacto no psicológico dos jovens. O julgamento excessivo, piadas e o bullying são comportamentos bastante comuns nas redes sociais, o que pode resultar em baixa autoestima, autojulgamento, sentimento de tristeza e autocrítica” , explica Luan.

Já para a professora e jornalista Michele Cruz, de 49 anos, o papel da mídia e do jornalismo na conscientização sobre os impactos das redes sociais na saúde mental dos jovens ainda precisa ser fortalecido. “Eu acho que ainda é necessário um movimento mais forte e um maior empenho da mídia como um todo, especialmente do jornalismo, para discutir esse assunto de forma mais aprofundada. Existem informações, mas elas são muito superficiais e não dão conta da gravidade do problema. Vemos informações e matérias, discussões em podcasts e debates em programas de entrevistas, mas isso precisa alcançar os jovens. A mídia e o jornalismo deveriam investir em um formato que se aproximasse mais dos jovens e trouxesse informações mais relevantes para esse público”, comenta Michele.

Os jovens que estão mais acostumados à interação virtual costumam desenvolver uma maior insegurança em relação à própria aparência, especialmente no que diz respeito à percepção do corpo. Essa insegurança não se limita apenas à estética, mas também se estende a questionamentos mais profundos, como a “necessidade de ser alguém na vida”. Além disso, a comparação constante com influenciadores e figuras públicas pode levar à sensação de inadequação, afetando não apenas a autoestima, mas também a visão que os jovens têm de seu próprio valor e propósito na sociedade.
Para a secretária Marcela Loyola, 26 anos, a comparação com os conteúdos das redes sociais influenciou sua autoestima e autoconfiança. “A comparação me faz questionar meus talentos e habilidades e parece que não estou sabendo aproveitá-los. Sabendo que, hoje em dia, quanto mais seguidores, mais visibilidade nas redes sociais, a pessoa se torna ‘conhecida’, ‘famosa’ e abre um leque de oportunidades. Vemos tantos influenciadores que não se formaram e ganham o equivalente a um profissional que está há anos no mercado de trabalho ou se tornam milionários apenas com o digital, sendo muitos deles sem conteúdo de qualidade”, discorre Marcela.

Diante desse cenário, surge uma tendência crescente entre alguns adolescentes: deletar suas contas nas redes sociais. Ainda sim, movidos pela busca por uma vida mais saudável e menos estressante, esses jovens estão optando por desconectar-se das plataformas digitais em busca de uma reconexão com o mundo real. Relatos indicam que essa decisão tem proporcionado melhorias significativas na autoestima, qualidade do sono e nas relações interpessoais, uma vez que os adolescentes se veem livres da pressão e das comparações constantes. No entanto, a exclusão das redes sociais também apresenta desafios, como o medo de ficar desinformado ou isolado das interações sociais que acontecem online. O estudante de publicidade Pedro Fernandes, 26 anos, relata a decisão de excluir as suas redes sociais. “Eu deletei minhas redes sociais, não foi só o Instagram, justamente por essa pressão que eu sentia, vendo muitas pessoas em uma realidade fora da minha e me comparando com elas. Ainda mais porque, nem sempre, essa também é a realidade delas. Assim como eu escolhia a dedo o que postar e fazer parecer que estava sempre bem, a realidade era outra. Logo, eu comecei a perceber que certas fotos tinham mais curtidas que outras, e, sempre que postava, ganhava mais seguidores. Então, comecei a moldar meu perfil para agradar mais aos outros do que a mim mesmo.” , expõe Pedro.

Embora o uso de tecnologias ofereça vantagens, é fundamental ter atenção e cuidados especiais para auxiliar jovens e adolescentes a superar os impactos negativos desse desafio na saúde mental e física.
Enquanto especialistas continuam a estudar o impacto das redes sociais na saúde mental, pais, educadores e os próprios jovens precisam estar atentos aos sinais de que o uso dessas plataformas pode estar afetando negativamente o seu bem-estar. O equilíbrio é fundamental, dessa forma, em vez de abandonar completamente as redes sociais, é importante promover o uso consciente e saudável, incentivando pausas regulares e a prática de atividades fora do ambiente digital.
Júlia Gabriela – 7º Período





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