Rodrigo Abdala comenta como é atuar diretamente com os jogadores e compartilha desafios, conhecimentos e suas principais responsabilidades ao trabalhar em um time de futebol

O Clube de Regatas do Flamengo é o primeiro time brasileiro a contratar um farmacêutico para trabalhar com os atletas em suas rotinas de treino. O profissional responsável é Rodrigo Abdala, formado em Nutrição pelo IBMR e Farmácia pela UFRJ. Começou seu estágio de nutricionista em 2021 no sub-17, focado na parte de alimentação, cozinha e clínica. Com o encerramento de seu contrato, o clube entendeu que os conhecimentos farmacêuticos de Abdala eram essenciais para o rendimento dos atletas e propôs uma nova contratação. Essa relação da farmácia e do nutricionismo possibilitou que o departamento médico avaliasse a fundo quais medidas eram necessárias para que bons resultados pudessem ser obtidos. Assim, sendo o primeiro farmacêutico a ter esse cargo, ele compartilha que o mundo da farmácia tem um futuro promissor em outros clubes de futebol e até mesmo em outros esportes.

Desde a sua chegada no clube como você avaliaria a evolução dos jogadores nas questões físicas, como exemplo as lesões, você percebe uma diminuição nos casos? 

 O trabalho no departamento de futebol é multidisciplinar, ou seja, não é possível dizer que apenas uma função evitou certa lesão ou melhorou determinada performance. “Nos dois anos que estou no clube, a gente consegue ver que muitos parâmetros que temos hoje e não tínhamos no passado servem de ferramenta para a tomada de decisão. Para o nutricionista, por exemplo, é possível ter mais informações a fim de conseguir fazer uma suplementação adequada e direcionada para o atleta. E na fisioterapia, os dados são importantes para trabalhar com mais eficácia na recuperação.” O trabalho em conjunto dessas áreas mostra resultados quando os jogadores conseguem se recuperar mais rápido, estão mais aptos a um calendário rigoroso de jogos e estar performando em alta intensidade. 

Quais são os desafios únicos de trabalhar com atletas profissionais em comparação com pacientes regulares? 

A principal ferramenta de trabalho usada é o corpo do atleta e esse é o maior desafio. “Quando a gente consegue fazer com que os jogadores entendam a necessidade de manter a máquina(corpo) funcionando bem, o trabalho flui. No momento em que alcançamos o entendimento sobre a importância deles dormirem bem, se recuperarem, terem uma boa alimentação e utilizarem a suplementação corretamente, ao longo do tempo os jogadores percebem que valem a pena seguir as recomendações.” Abdala completa relatando que em casos de lesões os atletas pioram seu condicionamento físico devido à falta diária de treinamentos, com o risco de perder até sua vaga no time e a partir desse momento o jogador percebe que toda essa rotina realizada dentro e fora do clube mantém sua alta performance a maior parte do tempo. 

Qual é de fato o papel de um farmacêutico em um clube de futebol? 

A atuação do farmacêutico no esporte de maneira geral é uma função nova. “A gente ainda não tinha essa função inserida no departamento médico de um clube. Agora o trabalho tem várias atuações. Hoje sou responsável por todas as análises bioquímicas que realizamos desses atletas, esses dados geralmente são coletados após o jogo e no dia seguinte. E é a partir deles que geramos relatórios para a comissão técnica e o departamento médico para ser possível entender o andamento da recuperação dos atletas e se há algum parâmetro alterado”. Além disso, são realizados trabalhos em conjunto com o departamento de nutrição, onde a suplementação dos atletas são todas individualizadas e baseadas nos resultados apurados das análises, onde o tratamento é direcionado com o intuito  de ter uma ação mais assertiva e eficaz na recuperação e melhora de desempenho dos jogadores. 

Qual o diferencial na sua atuação diretamente com os jogadores?

A farmácia tem um papel com a nutrição de individualização do que os atletas utilizam. “Cada organismo funciona de um jeito. Então, quando a gente consegue entender como o corpo daquele atleta está respondendo, conseguimos realizar uma suplementação para atender à demanda específica de cada um e obter melhores resultados. E ao longo desses anos junto ao nutricionista responsável pela performance do clube de regatas do Flamengo, é possível entender  a necessidade específica de cada atleta para, por fim, fazer esses suplementos mais corretos com a finalidade de ter um bom aproveitamento dessa suplementação.” 

Como você se sente sendo o único farmacêutico do futebol brasileiro a estar trabalhando dia a dia com os atletas? 

“É um desafio, a gente tem que a cada dia mostrar a importância desse trabalho. Fico feliz de ter sido o primeiro e estar abrindo portas para outros farmacêuticos terem essa possibilidade em outros clubes e em outros esportes. E, por outro lado, é uma responsabilidade muito grande porque a gente tem que estar o tempo inteiro mostrando essa importância e que temos espaços na equipe multidisciplinar. Cada um tem a sua função, mas quando todos conseguem trabalhar integradamente e mostrar que são mais uma fonte de informação, é possível perceber que este trabalho tem futuro e maior aceitação em outros times para que tenha mais farmacêuticos trabalhando em esportes de alto rendimento” disse Rodrigo Abdala.

Larissa Moraes – 1º Período

Eduarda Vila Nova – 1º Período